Saturday, 12 March 2011

IRMÃ MARIA CLARA DO MENINO JESUS por JOÃO CÉSAR DAS NEVES


Irmã Maria Clara

João César das Neves

Temos mais um português a subir aos altares. Libânia do Carmo Telles de Albuquerque, nascida na Amadora em 1843 e falecida em Lisboa a 1 de Dezembro de 1899, ficará para sempre conhecida como a agora beata, um dia santa Maria Clara do Menino Jesus. Externamente a sua obra é a fundação da CONFHIC, a Congregação das Irmãs Franciscanas Hospitaleiras da Imaculada Conceição. Mas ela esconde uma história paradoxal que nos interpela mais de cem anos depois.

O aspecto mais saliente é a perseguição religiosa. O regime liberal instalado em 1934 foi endemicamente anti-cristão, situação que manteve, com altos e baixos, durante quase cem anos. Libânia do Carmo nasceu num período de acalmia, pois há menos de ano e meio que voltara a haver núncio em Lisboa, após oito anos de cisma. Mas toda a sua vida seria marcada pela sombra anti-religiosa. A perseguição à Igreja em Portugal tinha um aspecto muito marcante, o ódio às ordens religiosas. A vida da Irmã Clara está directamente ligada a ele.

Dos três grandes ataques que o Liberalismo lançou contra a Igreja após o período revolucionário, a Mãe Clara esteve directamente ligada a dois, sendo protagonista principal de um deles. A perseguição latente do período costumava rebentar, de vez em quando, em enormes tempestades. As maiores foram o caso das Irmãs da Caridade, expulsas em 1862, de que Libânia do Carmo era aluna e de cujo Pensionato foi forçada a sair, o caso Sara de Matos, falecida em 1891 numa das casas da Congregação fundada pela Mãe Clara, e o caso Rosa Calmon, de 1901, já posterior à sua morte. Pode assim dizer-se que esta vida esteve mesmo no centro da terrível provação que a Igreja portuguesa sofreu nessas décadas.

Aquilo que esta história mostra bem é a forma como Deus lida com a perseguição. Perante a arrogância bastante pateta dos liberais, o Omnipotente responde com uma superabundância de graças inesperada e esmagadora. Não era suposto haver ordens religiosas. A lei proibia-as. Deus, não só cria uma nova, mas cria-a com uma tal esfusiante prosperidade, eficácia e influência que esmaga qualquer oposição. Vêm da Sua infinita misericórdia as inúmeras vocações, obras e gestos caritativos, inestimáveis para resolver os dramas e as misérias que os inimigos da Igreja não conseguiam solucionar.

A dimensão envolvida é impressionante. A Congregação, fundada em 1871 e reconhecida por Roma em 1876, tinha no fim do século, data da morte da fundadora, 508 irmãs, das quais 464 professas, 28 noviças e 16 recém admitidas ao hábito. Em menos de 30 anos, numa sociedade organizada contra a Igreja, é quase incompreensível esta multidão. «Nada acontece no mundo sem permissão divina», era algo que a Irmã Maria Clara costumava dizer muitas vezes. A perseguição tonta e invejosa aconteceu para se manifestar esta abundância imparável da misericórdia divina.

O elemento fundamental da sua obra, que a coloca para sempre na história de Portugal são milhares e milhares de pobres, doentes, desamparados crianças e infelizes acolhidos, tratados, ajudados, encaminhados. Em época tão turbulenta, ela é um exemplo de atitude cristã face à injustiça e à dor.

Mas o aspecto mais patente é o sentido de humor de Deus. O Senhor da História tem muita ironia na sua acção, que nem sempre entendemos. O contraste gritante entre aquilo que as leis pretendiam e o que Deus fez chega a ser hilariante. Diz o Salmo segundo: «Porque se amotinam as nações e os povos fazem planos insensatos? Revoltam-se os reis da Terra e os príncipes conspiram juntos contra o Senhor e o seu ungido. “Quebremos as algemas e atiremos para longe de nós o seu jugo!” Aquele que habita nos céus sorri; o Senhor escarnece deles» (Sl 2, 1-4). A Mãe Clara do Menino de Jesus é este sorriso de Deus que escarnece dos maçons portugueses.

Escarnece deles fazendo o bem nas suas barbas. Criando uma congregação, totalmente proibida, que em 1999 tinha 140 obras, sendo 44 hospitais, 41 colégios e escolas, 17 asilos de infância, 18 asilos de inválidos, 4 creches, 6 cozinhas económicas, 9 hospícios, 2 pensionatos, 5 conventos e 2 noviciados e estava presente, não só em todo o Portugal, do Minho ao Algarve, mas expandira-se para Luanda, Goa, Guiné-Bissau e Cabo Verde. Esta desproporção entre o que os homens pretendiam e o que Deus fez é propriamente um milagre, e assim deve ser visto por nós. A vida e obra da Mãe Clara é um milagre do humor de Deus, que sorri com amor perante os esbracejos dos homens que O querem atacar, e responde às perseguições com carinho pelos pobres.

João César das Neves, economista, autor da obra «Os Santos de Portugal»

MADRE MARIA CLARA DO MENINO JESUS VAI SER BEATIFICADA NO ESTÁDIO DO RESTELO A 21 DE MAIO DE 2011

Beatificação da «Mãe Clara» a 21 de Maio

Celebração no Estádio do Restelo vai ser preparada com iniciativas de divulgação da vida e obra desta religiosa portuguesa do século XIX

Lisboa, 07 Fev (Ecclesia) – A beatificação da irmã Maria Clara do Menino Jesus (1843-1899) vai ter lugar a 21 de Maio, no Estádio do Restelo, Lisboa, anunciou hoje a Congregação das Irmãs Franciscanas Hospitaleiras da Imaculada Conceição (CONFHIC), fundada pela futura beata.

Segundo o comunicado oficial, “espera-se um significativo número de participantes, não só de Portugal, como delegações dos 14 países” onde se encontra a CONFHIC.

A irmã Fátima Martins, do Departamento de Comunicação do Secretariado que prepara a beatificação, revelou à Agência ECCLESIA que a escolha do Estádio do Restelo se fica a dever ao seu “espaço amplo”, no qual as pessoas “podem estar sentadas”.

O presidente da celebração ainda não é conhecido, mas a irmã Fátima Martins adianta duas hipóteses: “D. José Policarpo ou o prefeito da Congregação para as Causas dos Santos (Cardeal Angelo Amato)”.

«Maria Clara, um rosto de ternura e da misericórdia de Deus» é o slogan escolhido para a celebração, que vai ser preparada com “iniciativas de divulgação e formação” sobre a futura beata.

Nos próximos tempos será publicada uma obra sobre Madre Maria Clara e na celebração de 21 de Maio "será distribuído um opúsculo (30 a 40 páginas) sobre a vida e obra” da religiosa, precisa a irmã Fátima Martins.

O ritual da beatificação inclui a leitura da Carta Apostólica e a “chamada procissão das relíquias”, que neste caso será “um osso da Madre Maria Clara”.

O processo conheceu o seu ponto culminante quando, no dia 10 de Dezembro de 2010, Bento XVI assinou o Decreto de aprovação do milagre atribuído à intercessão da Irmã Maria Clara, relativo à cura de uma católica espanhola, Georgina Troncoso Monteagudo, afectada por um grave problema de pele.

Libânia do Carmo Galvão Meixa de Moura Telles e Albuquerque nasceu na Amadora, em Lisboa, a 15 de Junho de 1843.

Recebeu o hábito de Capuchinha, em 1869, escolhendo o nome de Irmã Maria Clara do Menino Jesus.

A futura beata foi enviada a Calais, França, a 10 de Fevereiro de 1870, para fazer o noviciado, na intenção de fundar, depois, em Portugal, uma nova Congregação.

Abriu a primeira comunidade da CONFHIC em S. Patrício - Lisboa, no dia 3 de Maio de 1871 e, cinco anos depois, a 27 de Março de 1876, a Congregação é aprovada pela Santa Sé.

A «Mãe Clara», como é popularmente conhecida, morreu em Lisboa, no dia 1 de Dezembro de 1899 e o processo de canonização viria a iniciar-se em 1995.

Os seus restos mortais repousam na Cripta da Casa-Mãe da Congregação, em Linda-a-Pastora, onde “acorrem inúmeros devotos a implorar a sua intercessão junto de Deus”, diz Fátima Martins.

O milagre atribuído à religiosa ocorreu a 12 de Novembro de 2003, em Baiona (Espanha), numa “devota” que, em 1998, foi ao seu túmulo e pediu a cura de um pioderma gangrenoso (doença cutânea ulcerativa).

A CONFHIC adiante que Georgina Troncoso Monteagudo deve estar presente na beatificação da «Mãe Clara».

Esta religiosa do século XIX vai juntar-se, assim, a cinco portugueses beatificados nos últimos dez anos: os Pastorinhos Francisco e Jacinta, de Fátima (13 de Maio de 2000); frei Bartolomeu dos Mártires (4 de Novembro de 2001); Alexandrina de Balasar (25 de Abril de 2004, no Vaticano) e Rita Amada de Jesus (28 de Maio de 2006, em Viseu). Também neste período foi beatificado o Imperador Carlos de Áustria (3 de Outubro de 2004), que faleceu no Funchal.

A estas beatificações soma-se a canonização de Nuno Álvares Pereira, o Santo Condestável, que aconteceu a 26 de Abril de 2009, no Vaticano.

A beatificação, que antecede a canonização (declaração de santidade), é o rito através do qual a Igreja Católica propõe uma pessoa como modelo de vida e intercessor junto de Deus, ao mesmo tempo que autoriza o seu culto público, normalmente em âmbito restrito (diocese ou família religiosa).

LFS/OC


A BEATIFICAÇÃO DA FUNDADORA DA CONGREGAÇÃO DAS FRANCISCANAS HOSPITALEIRAS DA IMACULADA CONCEIÇÃO


Madre Maria Clara do Menino Jesus vai ser beata

Papa reconhece milagre de portuguesa

O Papa Bento XVI reconheceu o milagre atribuído a Madre Maria Clara do Menino Jesus, que viveu no século XIX e fundou uma congregação religiosa dedicada aos mais pobres. Decisão do Sumo Pontifice abre caminho à beatificação.

Bento XVI aprovou esta sexta-feira, 10 de Dezembro, a publicação do Decreto de aprovação do milagre, anuncia a sala de imprensa da Santa Sé, completando assim o último passo antes da marcação da cerimónia de beatificação, da irmã que é conhecida por Mãe Clara.

O caso da fundadora da Congregação das Irmãs Franciscanas Hospitaleiras da Imaculada Conceição (CONFHIC) refere-se, segundo o instituto religioso, à “cura repentina de pioderma gangrenoso” (doença cutânea ulcerativa) de que a espanhola Georgina Troncoso Monteagudo sofria há 34 anos, divulgou a agência 'Ecclesia'.

A 7 de Dezembro, os cardeais e bispos da Congregação para a Causa dos Santos tinham reconhecido o milagre, emitindo parecer positivo sobre a cura.

A celebração de beatificação deverá ocorrer em meados de 2011, na Diocese de Lisboa.

Libânia do Carmo Galvão Meixa de Moura Telles e Albuquerque nasceu na Amadora, a 15 de Junho de 1843, no seio de um família nobre abastada.

Órfã, entrou aos 14 anos no Internato da Ajuda. Recebeu o hábito de Capuchinha, em 1869, tomando o nome de Irmã Maria Clara do Menino Jesus. É enviada a Calais, França, a 10 de Fevereiro de 1870, para fazer o Noviciado, na intenção de fundar, depois, em Portugal, uma nova Congregação.

Funda a primeira Comunidade, em S. Patrício - Lisboa, no dia 3 de Maio de 1871 e, cinco anos depois, a 27 de Março de 1876, a Congregação é aprovada pela Santa Sé.

Ao longo da sua vida abre grande número de casas para recolher pobres e necessitados, em Portugal, e envia Irmãs para as Missões: Angola, Goa e Guiné-Bissau.

Morreu em Lisboa, a 1 de Dezembro de 1899.

A 6 de Dezembro de 2008, o Papa autorizara a publicação do decreto que reconhece as “virtudes heróicas” da Irmã Maria Clara do Menino Jesus.

O Sumo-Pontífice autorizou então a publicação do decreto que reconhece as "virtudes heróicas" da religiosa, após um encontro com o arcebispo Angelo Amato, sucessor do cardeal Saraiva Martins à frente da Congregação para as Causas dos Santos, no Vaticano. Aliás, este é o primeiro processo português que avança, depois de o cardeal Saraiva Martins ter abandonado a liderança do decastéreo.

A decisão de Bento XVI, em 2008, "abriu a porta ao estudo do suposto milagre, ocorrido em 2003, em Baiona (Espanha)", explicou - aquando da divulgação da decisão - ao CM a irmã Maria Lucília Carvalho, vice-postuladora da causa de canonização da irmã Maria Clara.

No convento de Linda–a–Pastora, onde está sepultada a madre hospitaleira, as irmãs contam que Georgina Troncoso Monteagudo se curou depois de conhecer a obra em Espanha. "Foi lá que pediu a madre Maria Clara para interceder por ela junto de Deus", disse a irmã Musela Nunes, natural de Goa.

Por sua vez, a irmã Glória Ferreira contou que, depois de curada, Georgina Trancoso veio a Portugal agradecer. "Sofria de pioderma grangrenoso e contou-nos que tinha o braço em carne viva, com dores horríveis", recordou.

Na continuação do trabalho de apoio aos necessitados iniciado por "Mãe Clara" , a irmã Lurdes Barbosa referiu que "são necessidades que ultrapassam o tempo".

“Mulher de coração sensível e sem fronteiras, notabilizou-se por uma vida inteiramente dedicada ao acolhimento e cuidado dos mais necessitados, que considerava «a sua gente»”, refere um comunicado da CONFHIC.

Madre Maria Clara do Menino Jesus está sepultada deste 1989 na Cripta da Casa-Geral da Congregação, em Linda-a-Pastora, concelho de Oeiras, onde ocorrem peregrinações pedindo a sua intercepção junto de Deus. No primeiro domingo de cada mês decorre cerimónia aberta ao povo. Cerca 1600 irmãs seguem a sua obra de ajuda aos mais necessitados pelo Mundo.

O site oficial da Congregação das Irmãs Franciscanas Hospitaleiras da Imaculada Conceição é http://www.confhic.com/

10 Dezembro 2010 Por:João Saramago