Friday 4 October 2013

O MILAGRE QUE CONVENCEU O VATICANO A CANONIZAR JOÃO PAULO II

 

Floribeth Mora Díaz

Reuters

Conheça o 'milagre' que convenceu o Vaticano a canonizar João Paulo II

Um aneurisma cerebral que desapareceu sem que os médicos conseguissem explicam porquê, depois de a doente pedir a intercessão do então Papa, foi o caso decisivo para a Igreja considerar João Paulo II santo

Floribeth Mora Díaz, da Costa Rica, tinha um aneurisma que a deixava, segundo os médicos, em estado terminal. Deitada numa cama, mal se mexia. Semanas depois, no entanto, o médico Carlos Vargas olhava incrédulo para os novos exames: do aneurisma nem o mais pequeno sinal. Agora sorridente, Floribeth explicava que se tratava de um milagre que tinha pedido ao então papa João Paulo II.
 
O médico analisou repetidamente os exames, foi ao laboratório do Hospital confirmar o resultado de umas análises, releu todo o caso, mas, nas palavras da antiga doente, à BBC, acabou por considerar o caso "inexplicável" por não encontrar qualquer sinal do aneurisma.
 
O diagnóstico dramático tinha sido feito em abril de 2011. A dona de casa e estudante de direito ficou devastada e a sua saúde deteriorou-se rapidamente.Tinha dores de cabeça e começou a ter dificuldades em falar e em usar a mão esquerda.
 
Cerca de um mês depois do diagnóstico, viu na televisão a cerimónia de beatificação de João Paulo II, que considerava um "homem especial". Depois de lhe rogar intercessão pela sua saúde, na mesma noite, garante ter ouvido uma voz que lhe pedia que "se levantasse e não tivesse medo". "Não me levantei de uma vez, mas comecei a sentir paz, a minha agonia desapareceu", conta. "O processo de cura do meu corpo ocorreu paulatinamente", concluiu.
 
A consulta que deixou o médico Carlos Vargas boquiaberto foi em novembro desse mesmo ano.

Este alegado 'milagre' foi decisivo para que a Igreja Católica decidisse canonizar Karol Wojtyla. A cerimónia está marcada para o próximo dia 27 de abril.

Saturday 7 September 2013

PAPA TRAVA ABORTO DE MULHER ITALIANA

Vaticano
 
 Papa Francisco telefona A grávida e oferece-se para ser padrinho de criança

Papa trava aborto de italiana

Desesperada por o amante não assumir o filho, a mulher escreveu uma carta ao pontífice.
 
Por:Paulo Madeira, com agências

O papa Francisco convenceu uma italiana a não abortar e até se disponibilizou para ser o padrinho da criança, noticiou a imprensa transalpina.

Anna Romano ficou a saber que estava grávida do amante, um homem casado, e que este não a ajudaria a criar o bebé. Como o pai da criança a tentava convencer a abortar, Anna, desesperada, decidiu então escrever ao papa. A sua intenção era meramente desabafar. E quando Francisco lhe telefonou nem queria acreditar. "Fiquei estupefacta ao telemóvel. Escutei-o. Tinha lido a minha carta. Garantiu-me que o bebé é um dom de Deus, um sinal da Providência. Disse-me que eu nunca estaria sozinha", contou Anna ao ‘Il Messagero’.

O impacto do telefonema foi tão grande que, em poucos minutos, a jovem mudou de ideias e decidiu levar a gravidez por diante.

"Encheu-me o coração de alegria", recorda. Mas Anna tinha outro problema para resolver. Divorciada e mãe solteira, receava que não fosse possível batizar o bebé. Mais uma vez, o papa tranquilizou-a. Não só lhe explicou que seria possível, como ainda se ofereceu para ser o padrinho. "Estou convencido de que não terá dificuldade em encontrar um pai espiritual. Mas, se não conseguir, estou disponível", afirmou Francisco. "Sinto que vai ser um menino. Como o chamarei? Francisco, obviamente", afirmou Anna. Refira-se, entretanto, que o Vaticano desmentiu outra notícia dos media sobre um alegado telefonema do papa a um jovem francês, a quem teria dito que a sua homossexualidade não era grave.
 

Saturday 31 August 2013

PAPA FRANCISCO CUMPRIMENTA A RAINHA RANIA DA JORDÂNIA


PIETRO PAROLIN SUBSTITUI TARCISIO BERTONE

Papa Francisco nomeou novo secretário de Estado do Vaticano
 
O papa nomeou o arcebispo italiano Pietro Parolin para secretário de Estado do Vaticano, em substituição do cardeal Tarcisio Bertone, anunciou este sábado a Sala de Imprensa da Santa Sé.
 
O novo detentor do cargo que mais de perto colabora com o papa tem 58 anos, é doutorado em Direito Canónico, e era até agora núncio apostólico (representante diplomático da Santa Sé) na Venezuela.
 
Ordenado padre em 1980, com 25 anos, ingressou na diplomacia do Vaticano em 1986. Em 2002 foi nomeado subsecretário da Secção para as Relações com os Estados da Secretaria de Estado. Antes da Venezuela, trabalhou na Nigéria e no México, e além do italiano, sabe francês, inglês e castelhano. Em setembro de 2009, Bento XVI, que semanas antes o tinha nomeado núncio na Venezuela, ordenou-o bispo.
 
Pietro Parolin, que colaborou com os cardeais Angelo Sodano e Tarcisio Bertone, os dois últimos secretários de Estado da Santa Sé, toma posse a 15 de outubro.
 

Numa declaração igualmente publicada na Sala de Imprensa, Pietro Parolin refere que a nomeação para uma missão «difícil e exigente» constitui uma «surpresa de Deus». Em texto publicado no site da presidência de Itália, o presidente Giorgio Napolitano enviou a Pietro Parolin uma mensagem em seu nome e «em nome do povo italiano», em que o congratula pela nomeação.

«O elevadíssimo cargo que o Santo Padre quis confiar-lhe constitui o reconhecimento de um prestigioso percurso ao serviço da Igreja», sublinha Napolitano, que elogia a «unanimemente apreciada» atenção do arcebispo às relações entre a Santa Sé e a Itália.

O presidente italiano está convicto de que com Pietro Parolin as relações entre ambos os Estados «continuarão a enriquecer-se», permitindo ainda consolidar a mútua colaboração «em defesa da paz e da justiça nos diversos cenários internacionais».
 
 
A substituição ocorreu na sequência do pedido de demissão que Bertone, de 78 anos, já tinha apresentado, ao abrigo do cânone 354 do Código de Direito Canónico: «Roga-se aos Padres Cardeais presidentes dos dicastérios ou das outras instituições permanentes da Cúria Romana e da Cidade do Vaticano, que, ao cumprirem setenta e cinco anos de idade, apresentem a renúncia do ofício ao Romano Pontífice, o qual, ponderadas todas as circunstâncias, providenciará».
 
Tarcisio Bertone foi nomeado por Bento XVI em 2006, e vai deixar o cargo de secretário de Estado dois dias depois de presidir, nessa qualidade e como enviado do papa, à peregrinação internacional ao Santuário de Fátima marcada para 12 e 13 de outubro.
 
 
O prelado italiano pertencente à congregação dos Salesianos completa 79 anos a 2 de dezembro. Vai continuar a ser camerlengo da Igreja católica, e mantém o posto no conselho cardinalício que superintende o Instituto para as Obras de Religião, comummente designado Banco do Vaticano. O camerlengo preside à Câmara Apostólica, órgão que administra os bens da Santa Sé destinados a fornecer fundos necessários para o cumprimento das funções da Cúria Romana, e é responsável por diversas funções aquando da Sé Vacante, isto é, quando o papa morre ou resigna.

Rui Jorge Martins
© SNPC | 31.08.13

http://www.snpcultura.org/papa_francisco_nomeou_novo_secretario_estado_vaticano.html

PAPA FRANCISCO DESPEDE O CARDEAL BERTONE


Vaticano: Prosseguem reformas e nomeações na Cúria. Papa Francisco vai ‘despedir’ Bertone A gestão do secretário de Estado e ‘número dois’ da Santa Sé tem sido muito contestada Por:Paulo Madeira O papa Francisco continua a sua ‘revolução’ na Santa Sé, que atinge agora as mais altas figuras. Segundo os ‘media’ italianos noticiaram ontem, o secretário de Estado e ‘número dois’ do Vaticano, cardeal Tarcisio Bertone, cuja gestão da Cúria tem sido bastante criticada, vai abandonar o cargo. O pontífice poderá substituir, já hoje, o cardeal Bertone, embora o seu sucessor apenas deva tomar posse em meados de outubro. Dois italianos são apontados como possíveis sucessores: o núncio apostólico na Venezuela, arcebispo Pietro Parolin, e o presidente do Governo da Cidade do Vaticano, Giuseppe Bertello. Ontem, o papa nomeou o padre espanhol Fernando Vérgez Alzaga novo secretário-geral deste organismo. O chefe da Igreja Católica terá decidido estas nomeações sem consultar a poderosa Secretaria de Estado do Vaticano. Em documentos secretos divulgados no ano passado no âmbito do escândalo ‘Vatileaks’, Bertone – homem da confiança de Bento XVI – é criticado por erros de gestão e más escolhas.

http://www.cmjornal.xl.pt/detalhe/noticias/internacional/mundo/papa-francisco-vai-despedir-bertone

Tuesday 2 July 2013

REBELDES SÍRIOS DECAPITAM PADRE FRANCÊS

O Vaticano confirmou o frio assassinato do padre franciscano François Murad (49). Ele foi decapitado em público no domingo, 23 de junho, por terroristas islâmicos radicais em Gassanieh, norte da Síria. O padre estava com as mãos atadas e teve seu pescoço cortado por uma faca. Sua cabeça foi então exibida à multidão histérica. O padre católico havia procurado proteção no convento cristão local, que foi atacado pelo grupo terrorista Jabhat al-Nusra.


                                                                A cabeça do padre é exibida à multidão

Esta ato repugnante deve deixar claro a todos os cristãos do mundo, que os chamados rebeldes na Síria são de fato assassinos frios, não combatem pela liberdade e muito menos são guardiães do Islã. Eles podem gritar quanto quiserem “Allahu Akbar” durante a decapitação, mas isso nada tem a ver com Deus.
 
Quem tira a vida de uma pessoa, comete um pecado mortal, ponto!
 
 Verso do Corão de Medina: 2.82
 
Por isso, quem faz o mal e está em pecado, irá morar no inferno, lá permanece.
 
Cada muçulmano que não condenar com veemência este assassinato brutal contra um padre católico indefeso, torna-se cúmplice. O Corão proíbe isso. Os assassinos e todos aqueles que assistiram passivamente irão ficar para sempre no purgatório. Eles são os servos de satanás e terão que pagar para sempre pelos seus atos covardes.
 
No vídeo abaixo é exibida a decapitação que faz do padre François um mártir, que morreu apenas por sua fé cristã. Atenção, as cenas são de extrema violência e eu as mostro apenas porque existem pessoas que ainda negam, que os jihadistas cometem tais atos na Síria.
 
A primeira vítima é o padre François. A segunda, que também teve a cabeça cortada, teria colaborado com o governo de Assad. Uma terceira pessoa que também tem as mãos atadas nas costas, e está de joelhos, também aguarda o mesmo destino.
 
Me faltam palavras para descrever toda minha indignação sobre este massacre. Quão desnaturado alguém deve ser para assassinar desta forma pessoas indefesas? Estes malditos assassinos até permitiram que crianças assistissem a cena.
 
Por que a mídia ocidental não reporta sobre este desprezível assassinato contra cristãos e sobre quem dá dinheiro e armas a este bando de assassinos para disseminar o terror na Síria? A saber: as piores ditaduras da Arábia Saudita e do Qatar, assim como a Turquia, Jordânia e Israel, e os Estados unidos e a Grã-Bretanha.
 
Onde está a condenação deste ato extremo de violência pelos governos do alegado ocidente civilizado? Não são eles que promovem todo tipo de espetáculo midiático quando se trata de direitos humanos e proteção da vida humana. Claramente todos os meios são legítimos para viabilizar a queda de Assad.
 
Eu convoco aqui todos os leitores do ASR a enviar este artigo com o vídeo a todos os deputados, governos, mídias, promotores, representantes das diferentes religiões e a qualquer um que precisa saber. O apoio aos terroristas que invadem a Síria e cometem os piores crimes tem que cessar imediatamente e os criminosos punidos.
 

http://inacreditavel.com.br/wp/padre-catolico-e-decapitado-por-islamistas/

PADRE CATÓLICO DECAPITADO NA SÍRIA


Monday 24 June 2013

AS HISTÓRIAS DOS SEM-ABRIGO EM PORTUGAL


                     Sem-abrigo. Ninguém conta as vidas que vão parar à rua como eles

Por Marta F. Reis
publicado em 15 Jun 2013 - 14:48
 
Na gare do Oriente dormem 40 pessoas. Só em Lisboa há três vezes mais sem-abrigo do que as estatísticas nacionais atribuem a todo o país.
 
Luís tem 43 anos e saiu de casa com 16. Eram 11 irmãos numa aldeia do concelho de Alcobaça. Em miúdo, o tempo era passado no campo, a trabalhar sem ganhar e a comer pouco. "Era uma escravidão. Para arejar, comprávamos um maço de tabaco e ficávamos fora até fumarmos os cigarros todos. Em casa levávamos." Chegou a Lisboa e começou a trabalhar nas obras. Um dia experimentou heroína com um colega e ficou 20 anos agarrado. O patrão metia-os na carrinha e a caminho do estaleiro parava para curarem a ressaca. "A minha vida é uma história de terror. Que quer que lhe conte?"

Aos 9 anos viu o melhor amigo morrer afogado, viu a mãe ser espancada e ficar em casa a aguentar - ainda lá está. Nunca mais falou com o pai, mas ela vai ligando. Deixou-se levar pela droga enquanto estava incluída no salário. Depois tornou--se difícil continuar a trabalhar daquela forma e quis parar de consumir. Começou uma desintoxicação numa comunidade terapêutica e parou antes do fim, a pensar que estava livre. Meses depois voltou ao mesmo. Há seis anos tentou uma segunda e ficou limpo. Acredita que é de vez, porque desce as ruas onde se injectam os velhos amigos e não se se sente tentado. Com mais baixos que altos, assume a depressão diagnosticada pelo médico. "Como é que podia ter acabado de outra forma?", remata. Instável, mas limpo, ainda arranjou trabalho. Pagava um quarto. Depois, outro depois, o serviço começou a falhar. Há cinco meses ficou na rua.

As histórias dos sem-abrigo que as aceitam contar são assim: cruas, rápidas, desarmantes. Perturbadoras por terem tantas vezes um rastilho antigo, casas onde faltaram os pais, onde faltou dinheiro. Onde sobejava álcool e violência. Ou simplesmente um azar. Há um antes e um depois que acaba na rua, seja a calçada, seja o caixote, a casa abandonada ou o albergue.

Luís conseguiu vaga no abrigo nocturno da AMI, na Graça, um dos seis espaços na cidade que faz que metade dos 2 mil sem-abrigo sinalizados, números revelados pela vereadora Helena Roseta, não durmam na rua. Só por estes números, divulgados há duas semanas, percebe-se que é normal não se saber ao certo quantos sem-abrigo existem em Portugal, porque as estatísticas estão longe de espelhar a realidade. No último censo, o Instituto Nacional de Estatística contou 696 pessoas sem tecto. Só em Lisboa, pelos dados da autarquia, há o triplo. O INE só contabiliza quem está na rua. Fica de fora quem dorme em albergues, como o abrigo da AMI, que abre ao fim do dia e fecha pelas 9h. Fica de fora quem não está à vista.

Eles contam Não gostam de falar, mas quando o fazem contam-se melhor que qualquer estatística. Vítor, 58 anos, casou-se com 22 anos. Jogador profissional de basquetebol, trabalhava na fábrica militar do Braço de Prata, a fazer munições. Perto dos 30, chegou ao fim a carreira no basquete e teve o seu depois. Apesar de ter casado jovem, e de ter um filho pequeno, o tempo livre e as amizades deram-lhe a conhecer a noite e o álcool. Um dia, nesse mundo de descobertas tardias, experimentou a droga. "Eu era tão certinho que só percebi que viciava à primeira ressacada."

Só pararia 15 anos depois. Quando a fábrica fechou, propuseram-lhe um esquema parecido com o da mobilidade. Nunca houve outra colocação e por fim deram--lhe a escolher entre uma indemnização e um subsídio de desemprego. "Tive o discernimento de não pedir o dinheiro todo, sabia para onde ele ia", lembra.

Separou-se e a mulher levou o filho. Começou a falhar a pensão de alimentos e o tribunal ordenou que fosse descontada do subsídio. Sem conseguir largar a droga e sem trabalho, começou a andar na rua. "Um dia quis parar, mas entendi que podia fazê-lo a frio. Fui a um centro de desabituação e disseram-me que tinha de fazer a metadona. Disse não: não ia sair de uma para outra."

Encontrou apoio na Cais e agora está no abrigo nocturno da AMI quase há um ano. Fez um curso de cerâmica que dava rendimento para pagar um quarto, mas depois do estágio no Museu do Azulejo não conseguiu emprego. Entrou então num projecto destinado a recuperar a profissão de engraxador e hoje tem o seu posto de trabalho num café no centro de Lisboa. Todos os dias sai com a esperança de descolar, de o rendimento ser o suficiente para deixar o abrigo e voltar a ter um quarto sem que tudo se desmorone de repente, um medo que fica. "Num momento a pessoa tem a família e depois aparece a droga. Percebi a rapidez com que caímos. Eu tinha 30 anos, já não era um miúdo. No dia do funeral da minha mãe estava a ser julgado por roubo. Estava a ressacar e não podia ir assim para o funeral. Lembrei-me de roubar uma mala para comprar droga. Nunca o tinha feito. Tinha tanto jeito que me caíram cinco polícias em cima. A família nunca me perdoou e não o peço. Estou a pagar pelos meus erros."

O depois de José Moura, natural de Cabo Verde, mas com nacionalidade portuguesa desde a juventude, foi o desemprego. Foi manobrador de gruas durante 20 anos. Depois as empreitadas começaram a ser cada vez menos. As últimas grandes obras foram as torres de Sete Rios e um prédio na Lapa. Há um ano o serviço começou a ser tão precário que deixou de pagar a prestação da casa. O banco ficou com ela. Sem família que o possa ajudar, ficou primeiro na rua, depois nos bancos do aeroporto e por fim encontrou vaga no abrigo da AMI.

"Há sempre um princípio que nos leva à rua", resume Pedro, 33 anos. É daqueles que já estiveram em associações, já esteve em albergues nocturnos, já esteve simplesmente na rua. Vende na Feira da Ladra. Quando tem dinheiro fica numa pensão. Quando não tem, fica no aeroporto, onde o encontramos a pedir uma ceia à carrinha da Comunidade Vida e Paz. Não entra em estatística nenhuma. "O meu princípio foi quando me separei. Mas antes comecei a ir para a rua procurar o que não tinha em casa." Depois apareceu o álcool e a droga. Os factores misturam-se, as histórias enrolam-se. "Isto é um mundo clandestino. Nas associações é-se muitas vezes escravo. Dão-nos cama e comida, mas fazem de nós motoristas o dia todo e os presidentes aparecem com carrões. Numa, no Norte, até me proibiam de procurar trabalho. Alguns ficam com os subsídios e as reformas, ninguém controla nada. Nalguns albergues somos tratados como animais."

No aeroporto, melhor que abrigos ou ficar na rua, diz Pedro, os seguranças têm dias. "Às vezes metem-nos na rua ou implicam. Estão fartos de me ver e outro dia perguntaram-me se ia viajar e o que é que tinha na mala. Eram livros para vender, disse-lhe que se quisesse fazíamos já ali negócio. E viajar, se calhar um dia vou. Posso ganhar a lotaria."

Milho aos pombos Dificuldades económicas, desamores, acidentes, droga, alcoolismo, doenças mentais. Nas conversas de rua há um fio condutor que torna as palavras de há umas semanas da vereadora Helena Roseta, na melhor das leituras utópicas e na pior redutoras. Helena Roseta descreveu as equipas de voluntários que distribuem refeições na rua como uma resposta a lembrar quem dá "comida aos pombos", defendendo a distribuição em locais onde quem precisa possa comer sentado e a criação de um hotel social, uma vez que a câmara não consegue responder a todos os pedidos de habitação.

Para quem conduz as carrinhas que distribuem refeições, as palavras de Roseta valem o que valem. Só a Comunidade Vida e Paz e o Centro de Apoio ao Sem-Abrigo (CASA) distribuem mil refeições todas as noites, 520 cada uma. "Não distribuir comida na rua é um bom princípio se houver condições para isso. Mas haverá sempre pessoas que não irão aos espaços da câmara. Se quisermos que comam temos de continuar a ir ter com eles", diz Jorge Correia, presidente da CASA, que acredita ainda assim que tem havido um esforço de articulação no terreno, liderado por Roseta, como nunca existiu nesta área. Pedro Sousa, director do abrigo nocturno da AMI, também acredita que será difícil resolver a realidade dos sem-abrigo com medidas como as propostas pela vereadora, mas vê lacunas. O abrigo da AMI, por exemplo, tem 26 vagas, o que contrasta com outros com mais de 100 onde os relatos que lhe chegam são de falta de condições. Ali há uma resposta personalizada, um encaminhamento com vista à reintegração e não apenas o tecto por uma noite, estruturas que entende que ainda fazem falta. Depois há o desafio das regras, que muitos não querem aceitar. "São pessoas livres, adultas, mas qualquer casa precisa de regras. É uma fronteira difícil."

A Igreja de Arroios é um ponto de distribuição de refeições onde se cruzam carrinhas de diferentes associações, outra realidade que Roseta contesta, defendendo que não faz sentido um sem-abrigo ser visitado por cinco equipas numa mesma noite. A partir das 20h há mais de uma centena de pessoas à espera junto às escadas da igreja. Algumas vão dormir ali, outras mais acima, na Travessa das Freiras. Mas a maioria dos que vêm buscar sacos de comida, roupa ou cobertores às carrinhas da CASA e Comunidade Vida e Paz, que vemos cruzarem-se como diz Roseta, não dorme na rua. Para quem está no terreno, esta procura por quem tem casa, mais ou menos precária, é uma das realidades em que se nota maior aumento de pedidos e justifica o trabalho intenso no terreno.

Vemos Marina duas noites seguidas. Com 27 anos, vive com o marido, a irmã, o cunhado e a mãe numa casa que diz estar a cair, com a casa de banho inoperacional. Conheceu o marido na rua, grávida de outro namorado. Chegaram a viver numa casa abandonada. A Segurança Social tirou-lhe a filha com poucos dias, faz três anos, e continua sem trabalho. Lá em casa só a irmã trabalha, faz limpezas numas escadas. Comem o que levam dali, conta. Levam mais de um saco, mas porque guardam para as refeições do dia seguinte. É jantar, pequeno-almoço e almoço. Tília, 57 anos, vive num quarto sem janela. Tosse muito enquanto a vemos ir às carrinhas também duas noites seguidas. "Tenho um quarto, mas fumam dentro de casa, fico atacada. Quase prefiro estar na rua." Quando recebe a pensão de invalidez paga a renda. Sobram 50 euros para remédios e comida. Não chega, por isso agarra o que consegue.

O que faz falta Para quem está no terreno, as lacunas são consensuais: falta alojamento, emprego e respostas nos cuidados de saúde, sobretudo para doentes mentais. Se há a sensação que a crise fez disparar o número de pessoas na rua, mais em 2012 do que este ano, parecem dominar as situações desencadeadas por desemprego de longa duração, de portugueses mas também de imigrantes sem apoio familiar. Isabel Oliveira, da Comunidade Vida e Paz, assinala também o aumento de perturbações psicológicas. "Encontramos pessoas jovens que estavam estruturadas mas perderam o emprego e deixaram de conseguir pagar a medicação." Na voltas de distribuição de comida isso é evidente. Numa paragem de autocarro, um homem recebe o saco sem reagir. Vêem-no ali há alguns meses. "Uma vez disse-me que tem 12 anos. Não temos para onde sinalizá-lo", conta Ana Bela, voluntária da volta.

Desde 2009 existe uma Estratégia Nacional para a Integração de Pessoas Sem Abrigo, que levou à formalização de núcleos de resposta na maioria dos concelhos. Ainda assim, o reconhecimento desta área não tornou os balanços mais periódicos: o i pediu informação sobre casos sinalizados ao Instituto de Segurança Social, que diz que só tem dados sobre o ano de 2009, quando foram sinalizados 2133 sem-abrigo em Portugal. O Instituto sublinha ainda que tem estabelecido acordos de cooperação com instituições privadas de solidariedade social para centros de alojamento temporários e que em Maio havia 31 CAT com capacidade para cerca de 950 utentes.

Só Lisboa, pelos dados avançados pela câmara, esgota estas estatísticas. Mas há mais. Em Setúbal, revelou ao i a autarquia, foram sinalizados 91 sem-abrigo no levantamento de 2011 e em 2012 mais 71 casos. Em Faro, o primeiro levantamento sinalizou 68 processos e em 2012 somaram-se mais 38. No Seixal, indicou a associação local Criar-T, foram sinalizados 65 casos em 2011. Ainda não têm dados de 2012, mas sentem que há mais casos. Já a AMI sente que o aumento de sem-abrigo aconteceu sobretudo em 2010 e 2011 e nos últimos meses têm sinalizados menos casos. Em 2012 apoiaram 1683 pessoas, menos 132 que no ano anterior. No primeiro trimestre deste ano deram apoio a 825 sem-abrigo.

Para Fernando Marques, da Criar-T, o problema já não é de falta de plano, mas de compromisso. "Apesar de ser um documento bem elaborado, a estratégia nacional ainda não tem legislação aprovada. Até ao momento não recebeu um cêntimo. O que acontece no terreno tem a ver com mobilização das instituições, o que se tem mostrado insuficiente quando o objectivo do programa é que ninguém fique na rua mais de 24 horas."

Mas e se o objectivo for demasiado ambicioso? "Acho que devemos aspirar a isso. Há pessoas que dizem que estão na rua porque querem mas é uma atitude defensiva. Se calhar não encontrámos ainda a resposta certa para elas", diz Isabel Oliveira. Tem números que a fazem acreditar. Em 25 anos de história, a Comunidade Vida e Paz ajudou a reintegrar 1700 sem-abrigo.

Reacção defensiva ou não, parece impossível pensar no relento zero. Manuel, 61 anos, dorme no Rossio há duas semanas e, confessa, porque quer. Tem casa em Belas. A história começa lá atrás: o pai bebia, ele bebe, o filho mais velho também. Chateou-se com a mulher, porque toma o partido do filho, e saiu de casa para espairecer sem dinheiro ou comida. Acorda, vai lavar-se às casas de banho públicas e fica a pensar e a ler. Tira um livrinho do bolso. O título é "Perdoa-me". À noite espera a comida das carrinhas. Da outra vez que isto aconteceu o filho foi buscá-lo passado um mês.

Há quem esteja fugido da polícia, conta Pedro e quem queira apenas viver à margem. "Às vezes até dava para ir para a pensão, mas vou gastar dinheiro para quê? É como ter de pagar impostos, prefiro andar na feira." José, 68 anos, dorme há mais de um ano numa carrinha estacionada à porta do mercado de Arroios. Lá dentro, cobertores, sacos, lixo, um cheiro agoniante que se entranha na roupa. "Já vivi numa casa aqui na rua, mas prefiro estar aqui", diz. Tem uma reforma que dava para pagar alojamento. Tem uma filha, netos que vê de vez em quando. Diz que é uma escolha. O cheque da reforma é enviado para uma tasca ali perto. Gasta-o em comida e bebida.

O abrigo na estação Entre tudo o que há a fazer, e nunca se resolverá de um dia para o outro, há imagens que se estranham. No acesso ao estacionamento subterrâneo da Gare do Oriente, num dia da semana, contam-se 40 pessoas enroladas em mantas e sacos-camas. Enchiam dois abrigos como o da AMI.

Como no aeroporto, haver tanta gente a dormir ali não é segredo para ninguém. Há regras e seguranças para as impor. Quem lá dorme guarda as coisas em carrinhos de supermercado, que a partir das 21h pode trazer para baixo. Às 6h têm de sair. Há uma ala de indianos, outra de romenos. Quem chega fica ao fundo ou onde há lugar. Esperam os sacos de comida para os esconder, se não de manhã desapareceram.

Gil, 54 anos, é dos poucos acordados perto da meia-noite e dos mais antigos. Dorme ali há nove anos. Como todos, tinha a vida dele até àquele depois. Era encarregado de uma firma de limpezas e fazia uns biscates por fora. Um dia, a limpar os vidros de um prédio num desses biscates, o cabo partiu e caiu do terceiro andar. O colega morreu e ele ficou com a perna atravancada. Como era por fora, não teve indemnização. Depois não voltou a trabalhar e deixou de conseguir pagar a renda da casa. Acabou na rua. "Habituamo-nos. Já estive bem e agora não tenho nada. Nunca se pode confiar muito, mas acabamos por ser uma família. Se aparece algum artista juntamo-nos e pomo-lo fora."
A noite é calma. Gil conta que só há duas alturas em que o cenário é diferente: o dia em que alguns recebem o rendimento social de inserção e o dia em que caem as reformas. "Pagam-se dívidas e alguns gastam em bebida. Começa em festa e acaba em confusão." É assim, são as voltas que a vida dá, diz. "Espero que nunca aconteça. Para aquilo que já vivi, se fosse para me matar já o tinha feito." Com 38 anos de serviço, espera os 55 anos que fará a 12 de Novembro para meter os papéis da reforma e sair da rua.

Wednesday 17 April 2013

MILAGRE EUCARÍSTICO DE BUENOS AIRES


O atual Papa Francisco conduziu investigação para comprovar um dos maiores milagres eucarísticos da história recente, ocorrido em Buenos Aires em 1996.

Foi o chamado Milagre Eucarístico de Buenos Aires, onde uma Hóstia Consagrada tornou-se Carne e Sangue. O Cardeal Jorge Bergoglio, Arcebispo de Buenos Aires, hoje Papa Francisco, ordenou que se chamasse um fotógrafo profissional para tirar fotos do acontecimento para que os fatos não se perdessem. Depois foram conduzidas pesquisas de laboratório coordenadas pelo Dr. Castanon.

Os Estudos mostraram que a matéria colhida da Hóstia era uma parte do ventrículo esquerdo, músculo do coração de uma pessoa com cerca de 30 anos, sangue tipo AB de uma pessoa que tivesse sofrido muito com a morte, tendo sido golpeado e espancado. Os cientistas que realizaram o exame e os estudos não sabiam que era material proveniente de uma Hóstia Consagrada, isso só lhes foi revelado após a análise, e foram surpreendidos porque haviam encontrado glóbulos vermelhos, glóbulos brancos pulsando durante a análise, como se o material tivesse sido colhido direto de um coração ainda vivo.

A Hóstia Consagrada tornou-se Carne e Sangue Às 19h de 18 de agosto de 1996, o Padre Alejandro Pezet celebrava a Santa Missa em uma igreja no centro comercial de Buenos Aires. Como estava já terminando a distribuição da Sagrada Comunhão, uma mulher veio até a ele e informou que tinha encontrado uma hóstia descartada em um candelabro na parte de trás da igreja. Chegando ao lugar indicado, o Padre Alejandro Pezet viu a hóstia profanada. Como ele não pudesse consumi-la, colocou-a em uma tigela com água, como manda a norma local, e colocou-a no Santuário da Capela do Santíssimo Sacramento, aguardando que dissolvesse na água.

Na segunda-feira, 26 de agosto, ao abrir o Tabernáculo, viu com espanto que a Hóstia havia se tornado uma substância sangrenta. Relatou o fato então ao Arcebispo local, Cardeal Dom Jorge Bergoglio, que determinou que a Hóstia fosse fotografada profissionalmente. As fotos foram tiradas em 6 de setembro de 1996. Mostram claramente que a Hóstia, que se tornou um pedaço de Carne sangrenta, tinha aumentado consideravelmente de tamanho.

Análises Clínicas

Durante anos, a Hóstia permaneceu no Tabernáculo e o acontecimento foi mantido em segredo estrito. Desde que a Hóstia não sofreu decomposição visível, o Cardeal Bergoglio decidiu mandar analisá-la cientificamente.

Uma amostra do Tecido foi enviado para um laboratório em Buenos Aires. O laboratório relatou ter encontrado células vermelhas e brancas do sangue e do tecido de um coração humano. O laboratório também informou que a amostra de Tecido apresentava características de material humano ainda vivo, com as células pulsantes como se estivessem em um coração.

Testes e análises clínicas: "Não há explicação científica"

Em 1999, foi solicitado ao Dr. Ricardo Castañón Gomez que realizasse alguns testes adicionais. Em 5 de outubro de 1999, na presença de representantes do Cardeal Bergoglio, o Dr. Castañón retirou amostras do tecido ensanguentado e enviou a Nova York para análises complementares. Para não prejudicar o estudo, propositalmente não foi informado à equipe de cientistas a sua verdadeira origem.

O laboratório relatou que a amostra foi recebida do tecido do músculo do coração de um ser humano ainda vivo.

Cinco anos mais tarde (2004), o Dr. Gomez contatou o Dr. Frederic Zugibe e pediu para avaliar uma amostra de teste, novamente mantendo em sigilo a origem da amostra. Dr. Zugibe, cardiologista renomado, determinou que a matéria analisada era constituída de "carne e sangue" humanos. O médico declarou o seguinte:

"O material analisado é um fragmento do músculo cardíaco que se encontra na parede do ventrículo esquerdo, músculo é responsável pela contração do coração. O ventrículo cardíaco esquerdo bombeia sangue para todas as partes do corpo. O músculo cardíaco tinha uma condição inflamatória e um grande número de células brancas do sangue, o que indica que o coração estava vivo no momento da colheita da amostra, já que as células brancas do sangue morrem fora de um organismo vivo. Além do mais, essas células brancas do sangue haviam penetrado no tecido, o que indica ainda que o coração estava sob estresse severo, como se o proprietário tivesse sido espancado."

Evidentemente, foi uma grande surpresa para o cardiologista saber a verdadeira origem do tecido. Dois cientistas australianos, o cientista Mike Willesee e o advogado Ron Tesoriero, testemunharam os testes. Ao saberem de onde a amostra tinha sido recolhida, demonstraram grande surpresa. Racional, Mike Willesee perguntou ao médico por quanto tempo as células brancas do sangue teriam permanecido vivas se tivessem vindo de um pedaço de tecido humano que permaneceu na água. "Elas deixariam de existir em questão de minutos", disse o Dr. Zugibe. O médico foi então informado que a fonte da Amostra fora inicialmente deixada em água durante um mês e, em seguida, durante três anos em um recipiente com água destilada, sendo depois retirada para análise.

Dr. Mike Willesee Zugibe declarou que não há maneira de explicar cientificamente este fato: "Como e por que uma Hóstia Consagrada pode mudar e tornar-se Carne e Sangue humanos? Permanece um mistério inexplicável para a ciência, um mistério totalmente fora da minha jurisdição". Abaixo, um vídeo com o depoimento do Dr. Castañón e imagens do Milagre.


Friday 8 March 2013

ANDRÉ MARTINS VAI SER MONGE EM FLORENÇA


André Martins tem 20 anos e vai ingressar esta semana na vida monástica. Há quem não entenda a escolha dele. Mas ele sente-se mais livre do que a maioria dos jovens
 
André Martins faz parte de uma geração marcada pelo excesso de informação e pelo avanço tecnológico. Uma geração que não conhece a palavra “tabu” e para a qual a liberdade faz parte do quotidiano. André acredita ter mais liberdade do que qualquer outro jovem. Queria ser missionário mas descobriu que, afinal, a sua vocação é tornar-se monge num mosteiro em Florença.
 
  É impossível não nos questionarmos sobre o facto de um jovem de 20 anos optar por este estilo de vida. A vida monástica implica votos e compromissos que os monges assumem até ao final da vida. André assumirá, entre muitos votos, o de castidade e de pobreza. Deixará de possuir bens. Vai ser o mais novo monge dos oito que passarão a coabitar no mosteiro florentino, que fica no centro de um cemitério.
 
 O silêncio é uma das marcas da vida monástica. A meditação e as orações ocupam grande parte do dia, que começa às 4h30 e só termina às 22h. André acha que a nossa sociedade já não dá valor ao silêncio, estando constantemente absorvida por ruídos.
 

Uma adolescência normal
 
 O futuro monge cresceu num meio muito católico, uma paróquia de Barcelos dedicada a S. Tiago. Andou na catequese, acolitava a missa, mas foi a grande amizade com o pároco e a convivência com outros jovens padres que o fez questionar a sua vocação. Os pais não reagiram muito bem quando, aos 14 anos, quis entrar para um Instituto Missionário, mas logo o apoiaram no que se viria a tornar uma grande aventura. Estudou Teologia na Universidade Católica. Agora veio despedir-se da família antes de entrar definitivamente para o mosteiro.
 
 André garante que teve uma adolescência semelhante a todos os outros jovens da sua geração. Isto porque a educação religiosa permitiu-lhe sempre que fizesse as suas descobertas e consequentes escolhas.
 
 Com o rosto corado, André compara a realidade de hoje com a dos antigos estudantes seminaristas, que “antes entravam num seminário e não havia contacto com o exterior", e, quando saíam de lá, era um processo mais complicado, até mesmo a nível sexual”. Mas os dias de hoje são diferentes. André conseguiu sempre “experimentar tudo isso lado a lado com a educação da fé”.
 
 
Resignação de Bento XVI
 
 Numa fase em que a Igreja está na boca do mundo graças aos vários escândalos que têm vindo a ser conhecidos, em que “a fragilidade dos homens” é realçada, o jovem pensa que “a Igreja europeia está muito mais carente”, sobretudo de “evangelização”. Sente que se tornou mais urgente intervir no continente Europeu do que em “África , por exemplo, que costuma ser o ponto de referência para a vida missionária”.
 
 
André vai ser monge em Florença
 
Quando Bento XVI resignou foi inevitável “o sentimento de orfandade” mas afirma que a sua fé não está nem no Papa nem nos Bispos mas sim em Jesus Cristo. O futuro monge vê a decisão de Bento XVI como um gesto de humildade. André já tinha estado na presença de Bento XVI três vezes e acha que esta decisão também é um sinal de esperança na medida em que irá iniciar-se uma nova etapa da história. E, com ela, virá alguém com uma nova missão.

http://p3.publico.pt/actualidade/sociedade/6941/andre-vai-ser-monge-em-florenca

VATILEAKS


Vatileaks. O misterioso “corvo” reapareceu nos céus de Roma

Por Rosa Ramos, publicado em 8 Mar 2013 - 11:16

Voltaram os autores da fuga de documentos do Vaticano. E, antes do conclave, avisam: “Esperamos que não seja preciso voltar a falar ao mundo”

O Vaticano bem tentou transmitir a mensagem, depois de o mordomo do Papa ter sido preso, de que o caso Vatileaks estava definitivamente arrumado. Mas em vésperas de conclave e após Bento XVI ter renunciado ao trono de S. Pedro, o “Corvo” - a enigmática figura que sempre reivindicou a autoria da operação de entrega de documentos confidenciais da Santa Sé à imprensa - reapareceu ontem nos céus de Roma.

Numa entrevista anónima ao jornal italiano “La Repubblica”, o Corvo explicou por que razão decidiu revelar os documentos sigilosos, o porquê da renúncia de Bento XVI e ainda deixou um aviso: “A Igreja tem a oportunidade, com o próximo Papa, de começar do zero. Esperamos que não seja preciso que o Corvo volte a falar ao mundo.”

Marco Ansalmo, o jornalista que conduziu a entrevista, descreveu a fonte como um homem “crente, fiel à Igreja, profundamente conhecedor da máquina do Vaticano, dos seus protagonistas e entendido nas matérias financeiras” da instituição. Mas o Corvo, explica o “La Repubblica”, não é só este homem. Ou o mordomo do Papa, Paolo Gabriele. O Corvo é um grupo constituído por cerca de 20 pessoas, entre homens e mulheres, leigos e religiosos. Em comum têm estar ligados ao Vaticano e defenderem a “transparência” e a reposição dos bons costumes e da verdade na cúpula da Igreja. Seja como for, o Corvo garantiu que a operação Vatileaks está terminada. “Já não há mais verdades para transmitir ao exterior. Tudo o que importa saber está escrito no relatório secreto compilado pelos três cardeais da confiança de Bento XVI”, garantiu, referindo-se à investigação interna encomendada pelo Papa emérito à situação da Cúria aquando da detenção do mordomo. As conclusões, essas, continuam no segredo de Deus e de mais uns poucos. Além deles só o próximo Papa terá acesso ao documento, depois de eleito.

Assim, o Corvo admite que o sucesso da operação dependerá do próximo sumo pontífice. “Tudo dependerá do Papa que for eleito, da facção que o eleger e de quem for escolhido para comandar a próxima secretaria de Estado”, diz a fonte, acrescentando que haverá sempre cardeais na Cúria a trabalhar no sentido de “bloquear” o caminho rumo a uma Igreja “livre de interesses privados e de corrupção e capaz de falar novamente aos fiéis”. O conclave, segundo o Corvo, poderá permitir à Igreja regressar ao caminho do bem. “A Igreja tem a oportunidade, com o próximo Papa, de começar do zero”, avisa, acrescentando: “Nós continuaremos fiéis à Igreja e ao Papa. E continuaremos a repor a verdade, se isso for necessário. Mas esperamos que não seja preciso que o Corvo volte a falar ao mundo.”

Na mesma entrevista, a fonte garante que Bento XVI não renunciou por causa do Vatileaks. O Papa emérito, conta o Corvo, propôs-se fazer uma limpeza em várias áreas dentro do Vaticano, de maneira a promover a transparência e a verdade. Só que encontrou resistências, o que acabou por conduzir à sua demissão: “Bento XVI sentiu que não conseguia realizar aquilo que desejava.” De acordo com a fonte do “La Repubblica”, a origem de toda a destabilização na Cúria - e a origem do próprio Vatileaks - tem um nome: IOR (banco do Vaticano). O Corvo conta que os problemas de Bento XVI começaram há pouco mais de um ano, quando decidiu confiar a Carlo Maria Viganò a difícil tarefa de coordenar “uma operação de transparência no banco”. Esse trabalho chocou com “interesses instalados” no Vaticano e Viganò acabou por ser afastado da Cúria, sem que o próprio Papa o conseguisse evitar. “Foi então que pensámos dar a conhecer o que se estava a passar dentro da Igreja, desencadeando uma operação de limpeza e de transparência que pudesse fazer aquilo que Bento XVI não estava a conseguir fazer”, garante o Corvo - que continua a dizer que o objectivo do grupo foi sempre ajudar o Papa. Na operação terão estado envolvidos funcionários de várias áreas do Vaticano: de membros da secretaria de Estado a arquivistas, passando por funcionários de museus e gente ligada ao jornal oficial do Vaticano, o “L’Osservatore Romano”. O grupo trabalhou em conjunto de maneira a fazer chegar os documentos aos jornalistas, admitindo o Corvo que pode haver coisas ainda por revelar: “Há documentos que foram divulgados e que não estão no livro do jornalista Gianluigi Nuzzi.”

O que falta saber, só o próximo Papa saberá e só depois de ser eleito. Até lá, o segredo continua na mão dos três cardeais que lideraram a investigação a pedido de Bento XVI.

http://www.ionline.pt/mundo/vatileaks-misterioso-corvo-reapareceu-nos-ceus-roma

Saturday 2 March 2013

TARCISIO BERTONE

Cardeal Bertone. O homem que vai administrar a Igreja até ao fumo branco

 

 Cardinal Tarcisio Bertone, Vatican Secretary of State, at center with red skull cap, officially takes over the vacant See as camerlengo, chamberlain, before sealing Pope Benedict XVI's apartment, after Benedict left the Vatican, Thursday, Feb. 28, 2013. Benedict XVI became the first pope in 600 years to resign Thursday, ending an eight-year pontificate shaped by struggles to move the church past sex abuse scandals and to reawaken Christianity in an indifferent world.
  
Por Rosa Ramos, publicado em 2 Mar 2013 - 15:11

O Cardeal camerlengo é acusado, no Vaticano, de andar há mais de um ano envolvido em lutas de poder para conseguir ser Papa.
 
Não vai ter de organizar o funeral do Papa, uma das funções reservadas ao cardeal camerlengo, mas terá pela frente outras tarefas de responsabilidade nas próximas semanas, como marcar as congregações ou receber o juramento de silêncio dos cardeais eleitores. Tarcisio Bertone - um dos nomes mais polémicos da Cúria romana dos últimos anos - é o homem encar- regado do governo da Igreja até que seja escolhido um novo Papa.
 
Salesiano e apaixonado por futebol, começou por ser das figuras de maior confiança de Bento XVI, mas nos últimos meses as relações entre o secretário de Estado do Vaticano e o Papa tornaram-se confusas e difíceis de compreender - até para os analistas e observadores mais atentos da Santa Sé. Tarcisio Bertone, 78 anos, trabalhou durante sete com Ratzinger, quando o alemão ainda era prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé. Depois de ter sido consultor em vários dicastérios da Cúria, aproximou-se daquele que viria a ser o Papa seguinte: ajudou-o a publicar a terceira parte do segredo de Fátima e estudaram, em conjunto, documentos sobre escândalos de abusos sexuais. Em 2006, depois de eleito Papa, Bento XVI nomeou-o secretário de Estado (número dois do Vaticano), em substituição do cardeal Angelo Sodano. Desde então, Bertone tem somado inimigos e poder. A última promoção a que teve direito aconteceu há pouco tempo: o ano passado foi escolhido camerlengo, substituindo o cardeal espanhol Eduardo Somalo.
 
Com a responsabilidade a aumentar na Cúria, Bertone foi deixando para trás a carreira de professor e reitor da Pontifícia Universidade Salesiana. No entanto, a sua nomeação para secretário de Estado esteve longe de ser pacífica. Desde o começo, foi acusado de não ter suficiente experiência diplomática para merecer o cargo. E a verdade é que o cardeal nunca foi propriamente um diplomata. Impetuoso, pouco delicado, intrometido nos assuntos da Cúria, imprudente e amigo do poder: é assim que tem sido retratado nos últimos seis anos na imprensa italiana.
 
O ano passado, o Vatileaks arrastou o nome do número dois do Papa para as manchetes dos jornais: boa parte dos documentos confidenciais do Vaticano vazados para os jornais italianos conduziam, directa ou indirectamente, ao secretário de Estado. Vários jornais chegaram a pedir a sua demissão, classificando o seu governo de “mau”.
 
Um dos primeiros documentos que chegaram à imprensa, há pouco mais de um ano, foi uma carta do cardeal Daryo Hoyos endereçada ao Papa, que falava de uma suposta conspiração para matar o sumo pontífice e que aludia a confrontos frequentes entre Bertone e Bento XVI. Outros documentos davam a entender que Bertone, se não era um dos principais corrompidos do Vaticano, teria pelo menos fechado os olhos a diversos factos graves. Viganò foi afastado da Santa Sé, depois de ter denunciado ao Papa alegados esquemas de corrupção e muitos atribuíram a sua transferência para os Estados Unidos à influência de Bertone.
 
Num perfil traçado no El País”, o número dois de Bento XVI é um homem “obcecado pelo poder” e com um gosto especial por controlar directamente os fluxos de dinheiro da Santa Sé. E alguns dos documentos divulgados no Vatileaks revelaram que Bertone não quis perder a comissão de supervisão do Instituto Obras Religiões (IOR), o banco do Vaticano.
 
Com essa verba, garante a imprensa italiana, o cardeal quereria comprar um hospital falido em Milão. Só que o Papa e o anterior presidente do banco, Ettore Tedeschi - colocado no cargo por Bento XVI para fazer uma limpeza à instituição e com ordens expressas para que lhe reportasse directamente todos os dados - não concordaram com Bertone.
 
Os conflitos ter-se-ão começado a agudizar e Tedeschi foi expulso - acusado de divulgar documentos secretos e de “incapacidade mental para o trabalho”. A sua saída abalou profundamente o Papa, que terá chorado quando soube do afas- tamento do seu colaborador. Para muitos observadores, aliás, a nomeação do novo presidente do IOR, Ernst von Freyberg, pode muito bem ter sido a derradeira tentativa de Bento XVI de tirar a chave do cofre do banco das mãos de Tarcisio Bertone.
 
Em Dezembro, numa entrevista ao i, o jornalista italiano Gianluigi Nuzzi, autor do livro “Sua Santità”, que contém boa parte dos documentos do Vatileaks, garantiu que Bertone terá montado nos últimos anos uma verdadeira “operação de poder” no Vaticano, colocando homens-chave em todos os sectores.
 
O secretário de Estado é agora, embora temporariamente, o líder da Igreja, e vai estar entre os cardeais eleitores do conclave. Contudo, não é um dos favoritos para suceder a Bento XVI - até porque já tem 78 anos.
 
 
 

Wednesday 27 February 2013

O ADEUS DO PAPA


Papa despede-se dos fiéis, à espera de um outsider capaz de reformar a Igreja

Retrato que emerge dos escândalos exagera a realidade, mas também a reflecte. Sem uma mudança profunda na Cúria, não haverá revolução no Vaticano.

A Praça de São Pedro já está a postos para receber a enchente que nesta quarta-feira ali acorrerá para ver Bento XVI na audiência geral que será o seu último acto público enquanto Papa. Na quinta-feira, deixará o Vaticano para trás e entregará nas mãos de outros a tarefa de transformar a Igreja que ele declarou falível e permeável ao pecado, abalada por "divisões que [lhe] deturpam a essência".

O Vaticano espera pelo menos 200 mil pessoas, o dobro das que assistiram ao Angelus, no domingo. Nas cadeiras cinzentas, dispostas em filas intermináveis, e à volta destas, vão juntar-se crentes comuns, mas também os membros do governo que acompanharam Ratzinger no exercício do seu poder sobre a Igreja, a Cúria Romana, incluindo muitos dos que dentro de alguns dias participarão na escolha do seu sucessor.

"Quando o muro de Berlim caiu, eu disse a alguns amigos que talvez viéssemos a assistir a qualquer coisa de inimaginável nas nossas vidas, que depois da queda do comunismo de Estado assistiríamos com toda a probabilidade ao fim da Igreja Católica como a conhecemos", diz o filósofo Giacomo Marramao numa conversa no seu escritório da Fundação Basso, entre o Panteão e o Senado, numa Roma de palácios que não dista muito do Vaticano.

Marramao pesa as palavras: "O último grande combate da Igreja foi a luta contra o comunismo, que João Paulo II venceu. Agora tem vários inimigos, o consumismo, os mercados, o capitalismo selvagem, mas nunca mais voltou a ter um verdadeiro adversário, uma potência com a qual travar uma luta cultural". Por isso, é chegada a hora de mudar a "função histórica" da Igreja Católica, de a fazer caminhar no sentido "da intensificação da experiência da fé", diz o filósofo. Faz falta "uma inversão da autoridade, é preciso abandonar a autoridade de Roma, das divisões corporativas e dos acordos diplomáticos, e substituí-la pela autoridade dos oprimidos".

Bento XVI, afirma Marramao, soube ler o momento actual e a sua renúncia oferece à Igreja Católica uma oportunidade única de mudança. A renúncia não basta. Para a reforma se concretizar, "é preciso um acto de coragem, um novo Papa que dê um sinal muito forte, uma figura inovadora que não pode ser apenas carismática".Uma minoria podre

 Marramao tem a certeza de que Ratzinger escolheu abandonar em vida a liderança da barca de São Pedro para abrir caminho a esta revolução. Mas não sabe se a Cúria o ouviu. Paolo Rodari, vaticanista do jornal Il Foglio (antes escreveu no La Reppublica e no Il Sole 24 Ore, entre outros), autor de vários livros sobre o Vaticano e sobre Bento XVI, também acredita que atrás da renúncia esteja "a vontade de dar um sinal muito forte a uma Igreja que não conseguiu reformar-se, principalmente a uma Cúria que não quis nem soube auxiliar o Papa na sua governação, nas mudanças que quis pôr em prática".

"A maioria dos que integram a Cúria quer o bem da Igreja, mas há uma minoria que tem outras preocupações. Alguns chegam ao Vaticano e continuam a trabalhar na defesa dos seus próprios interesses. Diria que este é um elemento fisiológico, é natural, vão existir sempre maçãs podres em qualquer governo, a Igreja não é excepção", descreve Rodari.

Se nos fixarmos em algumas das notícias publicadas no último ano, desde o início do Vatileaks, o caso de fuga de documentos que culminou na acusação do mordomo do Papa, Paolo Gabriele, condenado entretanto pelo roubo de correspondência, o retrato que emerge da Cúria romana é o de um ninho infestado nas mãos de grupos de pressão liderados por homens envolvidos em lutas de poder mesquinhas e capazes de tudo para alcançar os seus fins.

Segundo escreveu o jornal La Repubblica a semana passada, um destes grupos de pressão está unido pela sua "orientação sexual" - um lobby homossexual no interior do Vaticano que ameaçava a Igreja por se expor a ameaças de chantagem. Essa revelação, alegadamente contida no Relationem, o relatório fruto da investigação que o Papa ordenou na sequência do Vatileaks, teria sido determinante para Bento XVI abandonar a liderança dos fiéis.

Batalhas nada espirituais

 "O relatório dos três cardeais é secreto e vai permanecer assim, pelo que é muito difícil avaliar o quadro que sai destas notícias. Será um retrato romantizado, muito italiano, mas tem uma parte de verdade", diz Rodari. "Não conhecemos o relatório, mas conhecemos os documentos roubados, e esses bastam para mostrar que dentro da Cúria se consumam algumas batalhas nada espirituais. Que existem grupos antagonistas, sensibilidades diferentes, redes políticas até, lideradas por pessoas que se escondem atrás das suas funções religiosas".

Como o cardeal Tarciso Bertone, o poderoso secretário de Estado do Vaticano, e o principal alvo dos documentos trazidos a público com o Vatileaks.

Ali se lê que Bertone condenou um padre ao exílio nos Estados Unidos por este ter exposto a corrupção no Vaticano. Ali se descreve como Bertone terá tentado alargar a sua autoridade a Milão, despedindo o chefe do Instituto Toniolo (a fundação que controla a Universidade Católica da cidade, de onde saíram três dos ministros nomeados por Mario Monti) ou ordenando ao ex-chefe do Banco do Vaticano que comprasse um hospital falido, fundado por um confidente do antigo primeiro-ministro Silvio Berlusconi.

O banqueiro, Ettore Gotti Tedeschi, recusou investir no hospital depois de consultar as contas (quando o principal contabilista já se tinha suicidado) e descobrir que devia 1,5 mil milhões de euros e que a sua administração era alvo de um inquérito por fraude. Tinha sido Bertone a nomear Gotti Tedeschi e terá sido o cardeal a removê-lo, numa vingança pela desobediência.

Bertone é um dos "grandes eleitores" do conclave que terá início na primeira metade de Março, quando a hierarquia da Igreja, vinda de todo o mundo católico, se encerrar na Capela Sistina até o fumo branco assinalar a eleição de um Papa.

Rodari admite que os cardeais que já estão na Cúria deverão tentar determinar a escolha do sucessor, mas defende que "não é certo que o consigam".

O vaticanista não consegue "ver um candidato com possibilidades de ser eleito entre o chamado partido romano", mas diz que para reformar a Cúria e mudar a Igreja Católica não basta que o próximo Papa não seja de Roma. "Terá de ser um outsider, que venha de longe e que tenha força física e vontade suficiente", sentencia Rodari. Porque "sem uma mudança profunda na Cúria qualquer mudança é muito difícil." A mudança que deseja Marramao, segundo o qual Bento XVI quis "enterrar para sempre o Papa monarca", líder de um governo corrupto e distante dos fiéis, ou outra mais modesta.

http://www.publico.pt/mundo/jornal/papa-despedese-dos-fieis-a-espera-de-um-outsider-capaz-de-reformar-a-igreja-26131356

Saturday 16 February 2013

OS SEGREDOS POR TRÁS DA RENÚNCIA PAPAL


Mais do que querelas teológicas, são o dinheiro e as contas sujas do banco do Vaticano os elementos que parecem compor a trama da inédita renúncia do papa. Um ninho de corvos pedófilos, articuladores de complôs reacionários e ladrões sedentos de poder, imunes e capazes de tudo para defender sua facção.
 
Por Eduardo Febbro, de Paris. Tradução: Katarina Peixoto

 Os especialistas em assuntos do Vaticano afirmam que o Papa Bento XVI decidiu renunciar em março passado, depois de regressar de sua viagem ao México e a Cuba. Naquele momento, o papa, que encarna o que o diretor da École Pratique des Hautes Études de Paris (Sorbonne), Philippe Portier, chama “uma continuidade pesada” de seu predecessor, João Paulo II, descobriu em um informe elaborado por um grupo de cardeais os abismos nada espirituais nos quais a igreja havia caído: corrupção, finanças obscuras, guerras fratricidas pelo poder, roubo massivo de documentos secretos, luta entre facções, lavagem de dinheiro. O Vaticano era um ninho de hienas enlouquecidas, um pugilato sem limites nem moral alguma onde a cúria faminta de poder fomentava delações, traições, artimanhas e operações de inteligência para manter suas prerrogativas e privilégios a frente das instituições religiosas.

Muito longe do céu e muito perto dos pecados terrestres, sob o mandato de Bento XVI o Vaticano foi um dos Estados mais obscuros do planeta. Joseph Ratzinger teve o mérito de expor o imenso buraco negro dos padres pedófilos, mas não o de modernizar a igreja ou as práticas vaticanas. Bento XVI foi, como assinala Philippe Portier, um continuador da obra de João Paulo II: “desde 1981 seguiu o reino de seu predecessor acompanhando vários textos importantes que redigiu: a condenação das teologias da libertação dos anos 1984-1986; o Evangelium vitae de 1995 a propósito da doutrina da igreja sobre os temas da vida; o Splendor veritas, um texto fundamental redigido a quatro mãos com Wojtyla”. Esses dois textos citados pelo especialista francês são um compêndio prático da visão reacionária da igreja sobre as questões políticas, sociais e científicas do mundo moderno.

O Monsenhor Georg Gänsweins, fiel secretário pessoal do papa desde 2003, tem em sua página web um lema muito paradoxal: junto ao escudo de um dragão que simboliza a lealdade o lema diz “dar testemunho da verdade”. Mas a verdade, no Vaticano, não é uma moeda corrente. Depois do escândalo provocado pelo vazamento da correspondência secreta do papa e das obscuras finanças do Vaticano, a cúria romana agiu como faria qualquer Estado. Buscou mudar sua imagem com métodos modernos. Para isso contratou o jornalista estadunidense Greg Burke, membro da Opus Dei e ex-integrante da agência Reuters, da revista Time e da cadeia Fox. Burke tinha por missão melhorar a deteriorada imagem da igreja. “Minha ideia é trazer luz”, disse Burke ao assumir o posto. Muito tarde. Não há nada de claro na cúpula da igreja católica.

A divulgação dos documentos secretos do Vaticano orquestrada pelo mordomo do papa, Paolo Gabriele, e muitas outras mãos invisíveis, foi uma operação sabiamente montada cujos detalhes seguem sendo misteriosos: operação contra o poderoso secretário de Estado, Tarcisio Bertone, conspiração para empurrar Bento XVI à renúncia e colocar em seu lugar um italiano na tentativa de frear a luta interna em curso e a avalanche de segredos, os vatileaks fizeram afundar a tarefa de limpeza confiada a Greg Burke. Um inferno de paredes pintadas com anjos não é fácil de redesenhar.
 
Bento XVI acabou enrolado pelas contradições que ele mesmo suscitou. Estas são tais que, uma vez tornada pública sua renúncia, os tradicionalistas da Fraternidade de São Pio X, fundada pelo Monsenhor Lefebvre, saudaram a figura do Papa. Não é para menos: uma das primeiras missões que Ratzinger empreendeu consistiu em suprimir as sanções canônicas adotadas contra os partidários fascistóides e ultrarreacionários do Mosenhor Levebvre e, por conseguinte, legitimar no seio da igreja essa corrente retrógada que, de Pinochet a Videla, apoiou quase todas as ditaduras de ultradireita do mundo.

Bento XVI não foi o sumo pontífice da luz que seus retratistas se empenham em pintar, mas sim o contrário. Philippe Portier assinala a respeito que o papa “se deixou engolir pela opacidade que se instalou sob seu reinado”. E a primeira delas não é doutrinária, mas sim financeira. O Vaticano é um tenebroso gestor de dinheiro e muitas das querelas que surgiram no último ano têm a ver com as finanças, as contas maquiadas e o dinheiro dissimulado. Esta é a herança financeira deixada por João Paulo II, que, para muitos especialistas, explica a crise atual.

Em setembro de 2009, Ratzinger nomeou o banqueiro Ettore Gotti Tedeschi para o posto de presidente do Instituto para as Obras de Religião (IOR), o banco do Vaticano. Próximo à Opus Deis, representante do Banco Santander na Itália desde 1992, Gotti Tedeschi participou da preparação da encíclica social e econômica Caritas in veritate, publicada pelo papa Bento XVI em julho passado. A encíclica exige mais justiça social e propõe regras mais transparentes para o sistema financeiro mundial. Tedeschi teve como objetivo ordenar as turvas águas das finanças do Vaticano. As contas da Santa Sé são um labirinto de corrupção e lavagem de dinheiro cujas origens mais conhecidas remontam ao final dos anos 80, quando a justiça italiana emitiu uma ordem de prisão contra o arcebispo norteamericano Paul Marcinkus, o chamado “banqueiro de Deus”, presidente do IOR e máximo responsável pelos investimentos do Vaticano na época.

João Paulo II usou o argumento da soberania territorial do Vaticano para evitar a prisão e salvá-lo da cadeia. Não é de se estranhar, pois devia muito a ele. Nos anos 70, Marcinkus havia passado dinheiro “não contabilizado” do IOR para as contas do sindicato polonês Solidariedade, algo que Karol Wojtyla não esqueceu jamais. Marcinkus terminou seus dias jogando golfe em Phoenix, em meio a um gigantesco buraco negro de perdas e investimentos mafiosos, além de vários cadáveres. No dia 18 de junho de 1982 apareceu um cadáver enforcado na ponte de Blackfriars, em Londres. O corpo era de Roberto Calvi, presidente do Banco Ambrosiano. Seu aparente suicídio expôs uma imensa trama de corrupção que incluía, além do Banco Ambrosiano, a loja maçônica Propaganda 2 (mais conhecida como P-2), dirigida por Licio Gelli e o próprio IOR de Marcinkus.


Ettore Gotti Tedeschi recebeu uma missão quase impossível e só permaneceu três anos a frente do IOR. Ele foi demitido de forma fulminante em 2012 por supostas “irregularidades” em sua gestão. Tedeschi saiu do banco poucas horas depois da detenção do mordomo do Papa, justamente no momento em que o Vaticano estava sendo investigado por suposta violação das normas contra a lavagem de dinheiro. Na verdade, a expulsão de Tedeschi constitui outro episódio da guerra entre facções no Vaticano. Quando assumiu seu posto, Tedeschi começou a elaborar um informe secreto onde registrou o que foi descobrindo: contas secretas onde se escondia dinheiro sujo de “políticos, intermediários, construtores e altos funcionários do Estado”. Até Matteo Messina Dernaro, o novo chefe da Cosa Nostra, tinha seu dinheiro depositado no IOR por meio de laranjas.
 
Aí começou o infortúnio de Tedeschi. Quem conhece bem o Vaticano diz que o banqueiro amigo do papa foi vítima de um complô armado por conselheiros do banco com o respaldo do secretário de Estado, Monsenhor Bertone, um inimigo pessoal de Tedeschi e responsável pela comissão de cardeais que fiscaliza o funcionamento do banco. Sua destituição veio acompanhada pela difusão de um “documento” que o vinculava ao vazamento de documentos roubados do papa.
 
Mais do que querelas teológicas, são o dinheiro e as contas sujas do banco do Vaticano os elementos que parecem compor a trama da inédita renúncia do papa. Um ninho de corvos pedófilos, articuladores de complôs reacionários e ladrões sedentos de poder, imunes e capazes de tudo para defender sua facção. A hierarquia católica deixou uma imagem terrível de seu processo de decomposição moral. Nada muito diferente do mundo no qual vivemos: corrupção, capitalismo suicida, proteção de privilegiados, circuitos de poder que se autoalimentam, o Vaticano não é mais do que um reflexo pontual e decadente da própria decadência do sistema.


Leia também
http://www.pragmatismopolitico.com.br/2013/02/o-segredo-por-tras-da-renuncia-do-papa-bento-xvi.html

ANDREA BOCELLI E JACK NICHOLSON CONTRA O ABORTO

 

Jack Nicholson e Andrea Bocelli unidos pela vida e contra o aborto

WASHINGTON DC, 14 Fev. 13 / 03:42 pm (ACI/EWTN Noticias).- Jack Nicholson, famoso ator de Hollywood, foi concebido quando sua mãe era ainda adolescente e, várias vezes ofereceram a ela a possibilidade de abortá-lo, mas ela decidiu tê-lo.
 
Em declarações à imprensa americana, Nicholson assegurou que não concorda com o aborto e que não poderia assumir outra postura porque seria "hipócrita", já que se sua mãe tivesse aceitado o aborto, "estaria morto, não existiria".
 
Nascido em 1936, Nicholson cresceu acreditando que sua avó era sua mãe, e considerava como sua irmã a quem na realidade era a sua mãe. O ator descobriu a verdade somente em 1974.
 
Nicholson assegurou que "sou contrário ao meu distrito eleitoral no tema do aborto, porque estou positivamente em contra. Não tenho direito a qualquer outro ponto de vista. Minha única emoção é gratidão, literalmente, por minha vida".
 
Em um vídeo difundido no YouTube, o tenor italiano Andrea Bocelli revelou a história do seu nascimento e elogiou a sua mãe por não abortá-lo depois de saber que nasceria com uma deficiência.
 
No vídeo, titulado "Andrea Bocelli conta uma ‘pequena história’ sobre o aborto", o tenor contou que sua mãe grávida foi hospitalizada por "um simples ataque de apendicite", mas os médicos, ao terminar os tratamentos, sugeriram-lhe abortar porque "o bebê nasceria com alguma deficiência".
 
"Esta valente jovem esposa decidiu não abortar, e o menino nasceu. Essa mulher era minha mãe, e eu era o menino. Talvez estivesse parcializado, mas posso dizer que a decisão foi correta", assegurou Bocelli, que padece glaucoma congênito e perdeu a vista aos 12 anos, por um golpe na cabeça jogando futebol.
 
Jim Caviezel, ator católico que interpretou Jesus no filme A Paixão de Cristo, assegurou ao Catholic Digest, em 2009 que "não amo tanto a minha carreira para dizer ‘vou ficar calado sobre isto’", referindo-se ao aborto."Estou defendendo a cada bebê que não nasceu", assinalou.
 
O músico adolescente Justin Bieber também manifestou seu rechaço ao aborto. Em uma entrevista à revista Rolling Stone, Bieber assegurou que "realmente não acredito no aborto", pois "é matar a um bebê".
 
A mãe de Justin Bieber, Pattie Malette, também se envolveu recentemente na causa pró-vida ao produzir o curta-metragem "Crescendo" contra o aborto e a favor da vida. Pattie teve uma adolescência difícil, envolvida no mundo das drogas e do álcool, aos 17 anos tentou suicidar-se, antes de converter-se ao cristianismo.
 
Com seu curta-metragem, disse, "busco alentar às jovens mulheres de todo o mundo, como eu, para que saibam que têm um lugar aonde ir, pessoas que podem cuidar delas e um lar seguro onde viver se ficarem grávidas e acharem que não há lugar aonde acudir".
 
O veterano ator católico Martin Sheen também expressou repetidamente sua oposição ao aborto. Em uma entrevista em 2011, Sheen admitiu também que sua esposa, Janet, foi concebida por um estupro, por isso, assinalou, se sua mãe a tivesse abortado ou atirado em um rio, como chegou a pensar, ele não a teria conhecido.