André Martins tem 20 anos e vai ingressar esta semana na vida monástica. Há quem não entenda a escolha dele. Mas ele sente-se mais livre do que a maioria dos jovens
É impossível não nos questionarmos sobre o facto de um jovem de 20 anos optar
por este estilo de vida. A vida monástica implica votos e compromissos que os
monges assumem até ao final da vida. André assumirá, entre muitos votos, o de
castidade e de pobreza. Deixará de possuir bens. Vai ser o mais novo monge dos
oito que passarão a coabitar no mosteiro florentino, que fica no centro de um
cemitério.
O silêncio é uma das marcas da vida monástica. A meditação e as orações
ocupam grande parte do dia, que começa às 4h30 e só termina às 22h. André acha
que a nossa sociedade já não dá valor ao silêncio, estando constantemente
absorvida por ruídos.
Uma adolescência normal
O futuro monge cresceu num meio muito católico, uma paróquia de Barcelos
dedicada a S. Tiago. Andou na catequese, acolitava a missa, mas foi a grande
amizade com o pároco e a convivência com outros jovens padres que o fez
questionar a sua vocação. Os pais não reagiram muito bem quando, aos 14 anos,
quis entrar para um Instituto Missionário, mas logo o apoiaram no que se viria a
tornar uma grande aventura. Estudou Teologia na Universidade Católica. Agora
veio despedir-se da família antes de entrar definitivamente para o mosteiro.
André garante que teve uma adolescência semelhante a todos os outros jovens
da sua geração. Isto porque a educação religiosa permitiu-lhe sempre que fizesse
as suas descobertas e consequentes escolhas.
Com o rosto corado, André compara a realidade de hoje com a dos antigos
estudantes seminaristas, que “antes entravam num seminário e não havia contacto
com o exterior", e, quando saíam de lá, era um processo mais complicado, até
mesmo a nível sexual”. Mas os dias de hoje são diferentes. André conseguiu
sempre “experimentar tudo isso lado a lado com a educação da fé”.
Resignação de Bento XVI
Numa fase em que a Igreja está na boca do mundo graças aos vários escândalos
que têm vindo a ser conhecidos, em que “a fragilidade dos homens” é realçada, o
jovem pensa que “a Igreja europeia está muito mais carente”, sobretudo de
“evangelização”. Sente que se tornou mais urgente intervir no continente Europeu
do que em “África , por exemplo, que costuma ser o ponto de referência para a
vida missionária”.
André vai ser monge em Florença
Quando Bento XVI resignou foi inevitável “o sentimento de orfandade” mas
afirma que a sua fé não está nem no Papa nem nos Bispos mas sim em Jesus Cristo.
O futuro monge vê a decisão de Bento XVI como um gesto de humildade. André já
tinha estado na presença de Bento XVI três vezes e acha que esta decisão também
é um sinal de esperança na medida em que irá iniciar-se uma nova etapa da
história. E, com ela, virá alguém com uma nova missão.
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