Desempregados lutam contra a solidão e a depressão nos Grupos de Interajuda Social (GIAS), promovidos pela Cáritas, onde partilham experiências de vida, medos e ideias para tentar superar as dificuldades causadas pelo desemprego, que atinge milhares de portugueses.
"Em Portugal, o desemprego é o maior flagelo, pela sua dimensão numérica mas também pelos novos contornos que apresenta e não pode ser combatido somente com os procedimentos de intervenção tradicionais", afirmou a psicóloga Isabel Cordovil, que está a dinamizar o projecto a nível nacional.
Isabel Cordovil adiantou à Lusa que, em Abril de 2011, a Cáritas Portuguesa entendeu que seria conveniente apoiar as pessoas que estão desempregadas, em risco de empobrecimento e de ficarem isoladas.
Para isso, promoveu a criação dos GIAS, em que podem participar entre oito a 12 pessoas, que reúnem semanalmente ou quinzenalmente durante duas horas com o apoio de monitores.
"O GIAS não é um grupo orientado para a procura activa de emprego, nem orientado para a ajuda económica directa. É um grupo que apoia o encaminhamento para a resolução de problemas vividos", explicou.
Nos encontros, as pessoas "partilham experiências de vida, perdas e medos, competências e boas ideias, com o objectivo de tentar superar as dificuldades associadas à situação de desemprego e de reencontrar um caminho de confiança e esperança".
A experiência piloto decorreu entre Março de 2012 e Julho de 2013 na junta de freguesia de Santa Isabel, em Lisboa, onde decorreram 59 reuniões participadas por 33 desempregados de várias idades, qualificações e diversas experiências de desemprego.
Quinze destes participantes encontraram novas situações de trabalho e "muitos tornaram-se cidadãos mais activos e empenhados em voluntariado de proximidade", disse Isabel Cordovil.
Actualmente há grupos a funcionar em Leira, promovido pela Cáritas Diocesana de Leiria-Fátima, e em Setúbal, dinamizado pela Cáritas local. Na próxima semana, arrancará um novo grupo no Centro Social Paroquial da Quinta do Conde.
Para Nelson Costa, técnico da Caritas Diocesana de Leiria e animador do grupo, estes encontros funcionam como "um antidepressivo para muitas pessoas que estão fechadas em casa".
No grupo de Leiria estão quatro homens e duas mulheres, com idades entre os 30 e os 54 anos, mas a próxima reunião contará com mais duas pessoas. "É o passa palavra", comentou Nelson Costa.
O animador contou que os participantes chegam à reunião um pouco desalentados, envergonhados e com algum receio, mas "com o passar dos minutos" começam a conversar, a trocar ideias e a encorajarem-se uns aos outros.
"As pessoas não vêm com o sentido de que o grupo é um frete. Às vezes [devido ao tempo] até temos de cortar a palavra porque as pessoas se entusiasmam", comentou.
Apesar de ainda só terem decorrido duas sessões e ser "um grupo díspar a nível de experiência profissional e de vivências, é um grupo que se uniu e que sabe, acima de tudo, respeitar muito o espaço e a personalidade de cada um", frisou Nelson Costa.
Ana Carvalho, do Centro Social Paroquial da Cova da Piedade, que está a lançar o primeiro GIAS no concelho, considerou "fundamental e crucial" este apoio aos desempregados para não caírem numa situação de isolamento.
"É importante que se sintam integradas, porque as pessoas ficam fragilizadas numa situação de desemprego e pensam que estão à margem da sociedade", adiantou Ana Carvalho.
A Cáritas Portuguesa sublinhou que tem "colocado muito do seu empenho" nos GIAS devido ao "desemprego ser hoje o principal motivo de empobrecimento das famílias", e o isolamento uma das consequências desta situação.
Em Dezembro de 2013, Portugal tinha 819 mil desempregados, situando-se a taxa desemprego nos 15,4%, segundo o Eurostat.
Lusa/SOL