Dom Tomás de Aquino
Foi em 1975 que vi Dom Lefebvre pela primeira vez. Ele viera a nosso Mosteiro de Santa Maria Madalena em Bedoin, no Sul da França, para conferir as ordens menores a dois de nossos irmãos, o Ir. Jehan de Belleville e o Ir. Joseph Vannier. A pregação de Dom Lefebvre me impressionou pela sua serenidade. Ele respirava a paz, essa paz que é a divisa dos beneditinos e que ele parecia possuir mais do que nós.
Esta cerimônia não passou despercebida aos progressistas, que não nos perdoaram. Receber Dom Lefebvre! Deixá-los conferir ordens a nossos estudantes! Isto não podia ficar sem uma punição exemplar. O superior geral de nossa congregação veio ver-nos trajado à maneira progressista, como o exigem os tempos modernos, isto é, de paletó e gravata. Talvez a gravata seja fruto da minha imaginação, mas do paletó eu me lembro bem. Conclusão. Nós fomos excluídos da ordem beneditina. Na verdade era Dom Lefebvre que eles procuravam atingir, ou melhor, era Nosso Senhor que eles perseguiam.
Em 1976 eu pude escutar Dom Lefebvre pregando em Ecône no início daquele verão, que ficou conhecido como “verão quente” devido à gravidade dos acontecimentos que marcaram a vida da Fraternidade São Pio X e da Igreja naqueles dias heróicos em que Dom Lefebvre teve de dizer não a Paulo VI. Interrogado pelos jornalistas a respeito de sua atitude, Dom Lefebvre respondeu com simplicidade:
“Quando eu estiver diante de meu juiz, não quero que Ele possa dizer-me: ‘O senhor também, o senhor deixou que destruíssem a minha Igreja’.”[1]
Mas foi somente em 1984 que tive contato pessoal com Dom Lefebvre. Eu havia sido enviado para o seminário de Ecône, sendo já padre, para completar os meus estudos e para cuidar da saúde.
Aproveitando a presença de Dom Lefebvre, fui vê-lo com certa freqüência. Sua bondade paternal tornou fácil essas conversas, cujo essencial transcrevo aqui. Como eu tinha o costume de escrever o conteúdo desses colóquios após cada entrevista, hoje me sirvo dessas notas na redação desse artigo.
Na terça-feira, 6 de novembro de 1984, Dom Lefebvre falou-me do Ecumenismo:
“Se as outras religiões não são obra do demônio, então não há razão para não admiti-las; não há razão para combatê-las. Ora, todas as religiões, fora a Religião Católica, são obras que não vem de Deus. ‘Quem não é por Mim, é contra Mim’, disse Nosso Senhor. Toda religião, fora a Religião Católica, é obra do demônio. Toda atenuação desta verdade concorre para a perda das almas. Esta heresia está de tal maneira espalhada que mesmo nossos fiéis não escapam inteiramente à sua influência. Eu penso que nós estamos diante de uma verdadeira heresia. Penso como Dom Antônio de Castro Mayer, mas não quis dizê-lo publicamente até agora.”
No dia 12 de Março de 1985, Dom Lefebvre falou-me da questão dos acordos com Roma. Penso que Dom Lefebvre abordou este assunto por causa de Dom Gérard, que por essa época procurou obter de Dom Lefebvre apoio para um acordo com Roma. Dom Gérard dizia que com o Cardeal Ratzinger era possível de se entender e que Dom Lefebvre era fechado demais. Mesmo assim, Dom Gérard procurava a aprovação de Dom Lefebvre, sem a qual ele não teria a aprovação dos fiéis da Tradição.
“Submeter-se a homens que não têm a integridade da Fé Católica? Submeter-se a homens que proclamam princípios contrários aos princípios da Igreja? Ou nós seremos obrigados a romper de novo com eles e a situação se tornará pior que antes, ou seremos conduzidos insensivelmente à diminuição e à perda da Fé.
Há ainda uma terceira possibilidade. Uma vida bem difícil por causa do contato freqüente com homens que não tem a Fé católica, conduzindo à desorientação e ao enfraquecimento do espírito de combate dos fiéis.”
Esta questão conduziu Dom Lefebvre a falar das Sagrações:
“Eu esperei o mais possível para que Deus me esclarecesse a respeito das sagrações. Em Roma eles se afundam cada vez mais nos seus erros. Eu penso que é necessário assegurar a permanência do sacerdócio católico. Eu esperei a confirmação deste dever. Parece que a tenho cada vez mais.
O Liberalismo é uma heresia. Eu não o quis dizer até agora. Não se podia imaginar que um Papa pudesse chegar a tal ponto. Ele já não é Papa por causa disso? Eu não penso que se possa afirmar isto. É uma coisa que não se podia imaginar.”
E voltando à questão dos acordos:
“Nossa posição, tal como é agora, nos permite ficar unidos na fé. Todos aqueles que quiseram fazer um compromisso com os modernistas se desviaram. Penso que nós não devemos nos submeter a eles.
Eu desconfio imensamente. Passo as noites a pensar nisso. Não somos nós que temos de assinar nada. São eles que têm de assinar garantindo que aceitam a doutrina da Igreja. Eles querem nossa submissão, mas não nos dão a doutrina.”
Bela conclusão. Submissão? Sim, mas com a doutrina. Sem a Verdade Revelada, sem a Tradição, nada feito, pois seria o suicídio da Fé e a perda da vida eterna.
No dia 30 de março de 1985, Sábado da Paixão, Dom Lefebvre faz observações interessantes sobre a política, conversando com os professores do seminário em Ecône.
“Em vez da ONU, o Vaticano deveria ter encorajado a união dos Estados católicos. Houve um momento, após a guerra, em que havia vários chefes de Estado católicos na Europa: Salazar em Portugal, Franco na Espanha, De Valera na Irlanda, Alphonsini na Itália, Cotti na França e Adenauer na Alemanha, o qual, apesar de não ser católico, tinha alguns princípios católicos.”
Falando de Salazar, Dom Lefebvre contou que o grande presidente português se queixara dos bispos de seu país:
“É necessário reformar as universidades, mas os bispos não me ajudam. Eles parecem não compreender a importância. Mas, sem isso, como conseguir uma geração francamente católica?”
Neste mesmo dia, ou pouco depois, Dom Lefebvre, comentando a ilusão de alguns que estão sempre a procura de compromissos, disse:
“O Sr. X é sempre ambíguo. Ele quer nos conduzir a compromissos. Se a missa não é herética, é ortodoxa, diz o Sr. X. Como? E todas as nuances e graus entre a heresia e a ortodoxia?”
E, falando dos bispos que procuram semear esse clima de ambigüidade, diz:
“Eles se esforçam por propagar a Missa de indulto,[2] mas com a finalidade de aproximar os fiéis da Missa nova e da doutrina de Vaticano II.”
No dia 14 de maio de 1985, no seu escritório, Dom Lefebvre me fala do Concílio:
“Eles vivem na mentira. Inconscientemente. Talvez. Mas, objetivamente, vivem na mentira. No Concílio, eles diziam: ’O Concílio é pastoral.’ O próprio Papa dizia: ‘O Concílio é pastoral e não dogmático.’ Agora eles querem impô-lo como um concílio dogmático.”
Na segunda-feira de Pentecostes, Dom Lefebvre me fala do retiro que ele devia nos pregar no Barroux. As relações com Dom Gérard estavam bem tensas nesta época por causa dos acordos que ele queria fazer com Roma.
“Eu estou num grande embaraço”, diz Dom Lefebvre. “Receio que as palavras não me saiam da boca.”
Confissão comovente que mostra que, se Dom Lefebvre era um combatente, não era insensível e lhe custava enfrentar certas situações. Mas, mesmo assim, foi ao Mosteiro e nos pregou o retiro anual de 1985.
Este retiro foi uma nova ocasião de conversar com Dom Lefebvre. A questão das sagrações se tornava cada vez mais atual.
“Devo sagrar um bispo? Isto me repugna”, dizia ele, “mas me cite um só bispo que tenha um seminário onde se dê uma formação católica, sem mistura de modernismo. Penso que, se eu não fizer nada, Nosso Senhor me repreenderá após a minha morte, dizendo: ‘O senhor tinha o caráter episcopal, o senhor devia ter assegurado a continuação do sacerdócio católico.’”
Em outra ocasião, Dom Lefebvre deu mais esta razão para as sagrações, razão que me parece decisiva e que guardei na memória:
“Se Roma fosse capaz de formar padres católicos, eu não teria nenhuma razão de sagrar sem a autorização de Roma. Mas Roma já não é capaz.”
Tornava-se então necessário sagrar novos bispos. No entanto, Dom Lefebvre iria esperar ainda dois anos, prova de sua grande prudência. Ele queria ter a certeza de que isto era verdadeiramente o seu dever. Talvez quisesse também preparar os padres e os fiéis para este ato tão necessário, mas também tão insólito.
Estando de passagem em Ecône, em janeiro de 1986, aproveito para ver Dom Lefebvre. Entre outras coisas, ele me disse:
“O Papa anunciou um congresso de todas as religiões em Assis. Um congresso de todas as religiões! Que Deus vão eles invocar? Eu não vejo senão o Grande Arquiteto! Tudo isso é uma idéia maçônica. Creio que haverá reações. Itália. Assis. Tudo isso é ainda por demais católico. Eles vão, talvez, pedir um lugar menos católico. Jerusalém, talvez. ”
Diante de tudo isso, pergunto a Dom Lefebvre qual era a essência da doutrina do Santo Padre. Dom Lefebvre responde:
“― Que não há verdade. Que a verdade evolui. O que conta é a vida.
― Mas isto é a essência do Modernismo.
― Eles são modernistas ― diz Dom Lefebvre. ― Ratzinger e o Papa são modernistas. Essa é a razão por que não compreendem nada de nossas reclamações. Eles dizem: ‘Mas que mal há em tudo isto?’ É por essa razão que eles foram escolhidos. Por causa de seu espírito impreciso. Jamais dariam esses postos a alguém que tivesse o espírito escolástico, o espírito claro, límpido. Não. Eles já não querem isso.
É a maçonaria ― prossegue Dom Lefebvre ― que dirige o Vaticano. O Cardeal Cagnon me disse, ele mesmo. Não são necessariamente os que ocupam os postos principais que são maçons, mas eles são colocados de maneira a dirigir tudo.”
No final de 1986 Dom José Vannier e eu fomos envidados para ver um terreno que nos era oferecido para a fundação de um mosteiro no Brasil. Antes de deixar a Europa, fomos a Ecône para nos despedir de Dom Lefebvre. Ele nos falou então de Assis e de um desenho explicativo que ele queria difundir para alertar os fiéis sobre a gravidade desta reunião ecumênica. Ele nos mostrou dois desenhos. Um era de um seminarista e outro de uma irmã da Fraternidade. O do seminarista era mais bem feito, mas o da irmã era mais respeitoso. Dom Lefebvre preferia o da irmã. Ele não queria uma caricatura. Queria simplesmente explicar com imagens o pecado gravíssimo da reunião de Assis. Antes de partirmos, assegurei a Dom Lefebvre nossa adesão sem restrições à idéia do desenho.
Tendo partido para a América do Sul, nossa primeira visita foi ao seminário da Fraternidade São Pio X na Argentina. Dom Lefebvre e Dom Antônio de Castro Mayer aí se encontravam para as ordenações daquele ano, nas quais dois padres de Campos receberam o sacerdócio: o Rev. Pe. Hélio Rosa e o Rev. Pe. José Paulo Vieira, assim como o Rev. Pe. Álvaro Calderón e alguns outros padres da Fraternidade São Pio X.
Reencontrando Dom Lefebvre, ele nos falou novamente de Assis, e comentou as reações havidas a respeito dos famosos desenhos:
“Eu fiquei surpreso com a reação. Já a esperava, mas não tanto. Porém é uma lição de catecismo! Pode-se dizer o mesmo de todos os pecados. No céu não há ecumenistas, assim como no céu não há divorciados. No céu não há ninguém em estado de pecado mortal.
Peço a Deus que estes desenhos cheguem às mãos do Santo Padre e que ele acorde e se diga: ‘Aonde irei parar se continuo assim?’ É preciso que o Santo Padre salve a sua alma!
Ele convidou o chefe das falsas religiões a rezar nos seus erros. É um convite a permanecer no erro. É um reconhecimento desses erros.
Depois disso, eu disse que só faltava agora dançar com o demônio. Parece que o Papa já o fez, dançando ao som do rock, com estola, no meio de moças, na Austrália. Alguns se escandalizam mais com isso do que com a reunião de Assis. É uma falta de espírito de Fé. Assis é mais grave. É mais teológico.
A reunião que se realizou na véspera foi ainda pior. As palavras do príncipe Edimbourg foram blasfematórias.”
Este príncipe, marido da rainha da Inglaterra, disse que era necessário terminar com esse escândalo, que já dura dois mil anos, de um homem que disse: “Eu sou o Caminho, a Verdade, e a Vida.” O que se poderia esperar de diferente quando se trata de convidar todos os heréticos, cismáticos e infiéis a se manifestar?
Ainda no seminário da Argentina, Dom Lefebvre nos disse, falando das sagrações:
“Do ponto de vista teológico Dom Antônio de Castro Mayer nem vê dificuldade, mas tanto ele como eu pensamos que é melhor esperar um pouco.”
A respeito do Papa, acrescentou:
“Quanto a dizer que o Papa não é Papa, eu não sei. Os teólogos não estão de acordo a esse respeito. Não quero entrar nesta questão. Isto não me parece ainda muito claro. Prefiro dizer apenas que ele é um pecador público. Um Concílio decidirá, depois da sua morte, se ele foi Papa ou não.”
Em seguida nos falou do Cardeal Villot:
“Villot mentiu para Paulo VI, dizendo-lhe que eu havia feito os seminaristas assinar um documento contra o Papa. Quando pude ver Paulo VI, Villot estava furioso. Ele impôs que Benelli estivesse presente à conversa. O Santo Padre me falou desse famoso documento que eu teria feito os seminaristas assinar. Eu disse claramente a Paulo VI que não existia nada daquilo. Depois, o cardeal Benelli, em L’Osservatore Romano, negou que nós tivéssemos falado deste assunto. São uns bandidos. Mesmo a honestidade, a mais elementar, eles já não a têm.
Villot havia organizado tudo. Ele dizia que dentro de seis meses a Fraternidade não existiria mais. Deu-se então a visita canônica a Ecône, o chamado a Roma, a entrevista com Garrone, Tabera e Wright e o que se seguiu. Pior que os soviéticos; nem mesmo a aparência de um julgamento. Eu disse isso a João Paulo II. Ele sorriu. Nada mais [...].”
Falando de Montini e Pio XII, Dom Lefebvre nos disse:
“No começo do Concílio eu fiquei sabendo da história de Montini. ‘Promoveatur ut removeatur’.[3] E, no dia da sagração de Montini, Pio XII fez um discurso ditirâmbico. Que costume desastroso! Até Pio XII.”[4]
Em seguida vieram os anos da fundação da Santa Cruz, durante os quais Dom Lefebvre nos ajudou com seus preciosos conselhos. Eu tinha a consciência bastante incomodada por causa das modificações litúrgicas introduzidas por Dom Gérard na missa. Não se tratava ainda da nova missa, mas também já não era o missal de João XXIII, de 1962. Eram algumas modificações introduzidas por Paulo VI e por Dom Gérard ele mesmo. Escrevi então para Dom Lefebvre, que, embora não aprovando Dom Gérard, me aconselhou sobretudo guardar boas relações com o nosso mosteiro da França, o Barroux. Por aí se vê que Dom Lefebvre era bastante conciliador. Se se opôs ao Santo Padre, era porque realmente não havia outra solução. Ele se opôs por dever e não por inclinação natural.
Mas estas boas relações com nosso mosteiro da França não iam durar muito tempo. Dom Gérard, depois das sagrações, fará um acordo que porá os nossos mosteiros debaixo da autoridade dos modernistas.
Dom Lefebvre me escreveu então uma carta datada de 18 de agosto de 1988, na qual dizia:
“Como lamento que o senhor tenha partido antes dos acontecimentos do Barroux.[5] Teria sido mais fácil considerar a situação resultante da decisão desastrosa de Dom Gérard.
O Padre Tam se ofereceu para visitá-lo ao voltar ao México e lhe entregar estas linhas.
Dom Gérard, na sua declaração, expõe o que lhe é concedido e aceita pôr-se debaixo da obediência de Roma modernista, que permanece fundamentalmente antitradicional, o que motivou o meu afastamento.
Ele queria ao mesmo tempo guardar a amizade e o apoio dos tradicionalistas, o que é inconcebível. Ele nos acusa de ‘resistencialismo’.
Eu bem o avisei. Mas sua decisão estava já tomada havia muito tempo, e ele não quis mais escutar conselhos.
As conseqüências agora são inevitáveis. Mas não teremos mais nenhuma relação com o Barroux e avisamos todos os nossos fiéis para que não ajudassem mais uma obra que daqui para frente está nas mãos de nossos inimigos, dos inimigos de Nosso Senhor e de seu reino universal.
As irmãs beneditinas estão angustiadas. Elas vieram me ver. Eu lhes aconselhei o que lhe aconselho igualmente: guardar a sua liberdade e recusar todo laço com esta Roma modernista.
Dom Gérard usa de todos os argumentos para paralisar a resistência [...].
O senhor devia se unir com Dom Lourenço e com o argentino,[6] e com seus noviços [...].
Os senhores três, com os noviços de Campos, os senhores poderão continuar e constituir um mosteiro independente de Roma. É necessário não hesitar em afirmá-lo publicamente. Deus o ajudará.
E o senhor poderia em seguida, depois de algum tempo, reconstituir um mosteiro na França. O senhor seria muito apoiado e teria vocações.
Dom Gérard suicidou a sua obra.
O Padre Tam lhe dirá de viva voz o que eu não escrevi. Peço a Nossa Senhora que o ajude na defesa da honra de seu divino Filho.
Que Deus o abençoe e abençoe o seu mosteiro.”
Eis como Dom Lefebvre via a situação. Nós seguimos os seus conselhos. Uma declaração pública foi feita, e nós nos separamos de Dom Gérard. Esta declaração foi feita com a ajuda do Rev. Padre Fernando Rifan, do Rev. Padre Tam e do Dr. Júlio Fleichman, pai de Dom Lourenço. Dom Lefebvre queria que esta declaração fosse conhecida dos monges do Barroux e que estes depusessem Dom Gérard “se ele não quiser romper com Roma”.[7]
“As sagrações trouxeram um reforço de vida à Tradição”, escrevia Dom Lefebvre nesta mesma ocasião. “Os fiéis estão contentes. Eis por que a defecção de Dom Gérard é duramente criticada e ninguém o segue; exceto alguns falsos tradicionalistas.”
Após as sagrações e os acontecimentos que se seguiram de perto, Dom Lefebvre teve de suportar uma dura provação com o caso do Padre Morello, na Argentina. Isto não o impediu de continuar a nos aconselhar com sua paternal solicitude. Não somente nós fomos ajudados por ele, mas também Campos e mais especialmente o Rev. Padre Rifan.
No entanto, era sobretudo Dom Antônio de Castro Mayer, seu amigo e irmão no episcopado, que ocupava o coração de Dom Lefebvre.
“Ecos me chegam do Brasil”, escrevia ele a Dom Antônio, “a respeito de vossa saúde, que declina. O apelo de Deus estará próximo? Esta eventualidade me enche de profunda dor. Em que solidão vou me encontrar sem meu irmão mais velho no episcopado, sem o combatente exemplar pela honra de Jesus Cristo, sem o amigo fiel e único no terrível deserto da Igreja Conciliar!”[8]
Dom Lefebvre e Dom Antônio iam nos deixar quase ao mesmo tempo, em 1991, deixando-nos o exemplo da sua Fé e de seu espírito de combate recebidos em Roma durante os anos de seminário junto ao túmulo do príncipe dos Apóstolos.
Que suas heróicas virtudes e seus méritos nos obtenham a graça da fidelidade.
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[1] Dom Tissier de Mallerais, Marcel Lefebvre, une vie, Ed. Clovis, 2002, p. 644.
[2] Indulto de 1984 para celebrar a Missa de São Pio V, concedido pelo Papa João Paulo II, mas com uma restrição: não rejeitar a Missa de Paulo VI. Conclusão: indulto só para os que não tinham motivos para fazer uso exclusivo da Missa de São Pio V. Como dizia, com humor, um escritor francês: “Este indulto é reservado exclusivamente àqueles que não têm nenhuma razão para pedi-lo.” Na verdade, como nota Dom Lefebvre, este indulto tinha como objetivo habituar os padres e os fiéis às duas missas e, desta forma, fazê-los aceitar a Missa nova, como foi o caso de Dom Fernando Rifan e o de tantos outros.
[3] “Promovido para ser removido”.
[4] Secretário de Estado de Pio XII, Montini havia traído Pio XII. Pio XII o destituiu, mas deu-lhe cargo de arcebispo de Milão e fez um sermão elogioso ao seu mau servidor.
[5] Eu tinha voltado ao Brasil antes da conclusão ou, ao menos, da publicação dos acordos de Dom Gérard com Roma.
[6] Dom João da Cruz.
[7] Carta de 2 de setembro de 1988.
[8] Carta de 4 de dezembro de 1990. Apesar de sua análise penetrante desse “terrível deserto da Igreja Conciliar” e das indagações que ele se fazia a respeito do Santo Padre, Dom Lefebvre nunca foi sedevacantista, muito pelo contrário. Sua posição se baseava na atitude de São Pio X em relação aos modernistas e da atitude de Pio IX em relação aos liberais.
REVISTA CORREDENTORA 4-03-2010
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