Sunday 31 October 2010

SUBCHEFE DA PSP RECORDA ATAQUE DE JUAN KROHN AO PAPA

06-04-2005 - 19:30h

«Achei que era um padre que queria tocar o Papa»

Homem da PSP que evitou que o Santo Padre fosse apunhalado em Fátima resistiu três vezes às tentativas do padre Krohn. À terceira foi de vez. Deitou-o ao chão e retirou-lhe o punhal

1982. O subchefe Ramalhete é um dos guarda-costas do primeiro-ministro Pinto Balsemão. A polícia portuguesa prepara nesse ano a primeira visita a Portugal do Papa João Paulo II. Ramalhete é chamado a integrar a operação de segurança, chefiando duas equipas de elementos da PSP que iam proteger o santo padre - uma em Fátima e outra em Coimbra.

Católico, com 34 anos e cheio de amor pela profissão, o subchefe não imaginava, quando foi chamado a integrar a missão, que acabaria por salvar a vida ao sumo pontífice. Momentos que nunca mais esquecerá. Pormenores que recordou em entrevista ao PortugalDiário.

«Era um punhal com 37 centímetros de comprimento e 25 centímetros de lâmina.» A arma com que tentaram atingir o Papa, um punhal considerado arma militar, ainda é guardado pela Polícia Judiciária. Mas a história do atentado que o Santo Padre sofreu em Fátima começa uns minutos antes da apreensão do sabre.

12 de Maio, 22.45h. «O Papa tinha saído da capela das Aparições e seguia no jipe em direcção ao altar mor». No corredor por onde o veículo passa, não é permitida a entrada de ninguém, excepto os homens da segurança e alguns religiosos. Juan Fernández Krohn, um padre espanhol, furou o esquema de segurança e entrou no corredor proibido.

«De repente o padre saltou a vedação mas nem considerámos muito grave porque era um padre. Achámos que era um padre emocionado que queria tocar no Papa», conta o (agora) subcomissário Ramalhete. Mas era grave. Era grave porque Krohn não era um padre qualquer. Fazia parte de um movimento integrista da Igreja Católica - a Fraternidade S. Pio X, cujo fundador, monsenhor Marcel Lefebvre, provocou depois um cisma, ao ordenar bispos contra a autoridade do Papa. Esta foi, aliás, a única ruptura oficial vivida por João Paulo II à frente dos destinos do Vaticano e da Igreja.

«Tentou saltar o cordão de segurança três vezes. Eu estava entre os que formavam o cordão de segurança mais próximo do Papa, a uns três metros dele. Ele tentou passar pelo meu lado e eu impedi-o. Mais à frente tentou forçar novamente o cordão. Eu não o deixei, dei-lhe uma cotovelada. Quando o Papa vai a chegar ao altar, [Krohn] lançou-se sobre o meu braço direito e gritou umas palavras agressivas sobre comunismo ou qualquer coisa como "Abaixo o Vaticano"». O jovem polícia provoca de imediato a queda do criminoso e só quando já está derrubado sobre as escadas é que é possível ver o punhal que segura na mão.

«O Papa ainda voltou atrás e deu-lhe a bênção, fez-lhe o sinal da cruz. E [Krohn] ainda voltou a dirigir palavras ofensivas ao Papa».

Apesar de ter conseguido, por três vezes seguidas, evitar que o atentado se concretizasse, o subcomissário sublinha que foi «um trabalho de equipa». Mais tarde prestou declarações na Polícia Judiciária. O padre Krohn, de 32 anos, «era alto, magro e fisicamente bem constituído. É julgado no tribunal de Ourém e condenado a sete anos de prisão. Cumpre apenas três anos e é libertado por bom comportamento.

As palavras minuciosas com que o oficial reformado da PSP descreve todo o caso revelam que esta será uma das operações mais marcantes da sua vida. Embora não seja a única. «Também não esqueço o dia em que levei Sá Carneiro ao aeroporto, momentos antes de ter morrido».

PORTUGAL DIÁRIO 06-04-2005 - 19:30h
Por: Lisete Reis

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