Sunday, 28 November 2010

FÓRUM ABEL VARZIM LEMBRA OPOSIÇÃO CATÓLICA AO ESTADO NOVO


Cardeal Cerejeira e Salazar (1.º e 3.º a contar da esquerda). Inauguração da exposição do Mundo Português (Lisboa, 23.06.1940). Foto: Mário Novais

História

Fórum Abel Varzim lembra posição de católicos que se opuseram a Salazar e à submissão da Igreja ao Estado Novo

O Fórum Abel Varzim disponibiliza no seu site diversos documentos relativos à actividade empreendida por católicos na década de 1950/60. Os textos críticam algumas posições de António de Oliveira Salazar, bem como a submissão de parte do clero a determinadas políticas seguidas pelo Estado Novo.

Os arquivos incluem o número 8 do jornal clandestino «Direito à Informação», que começou a ser policopiado em 1963. O boletim pretendia difundir notícias e documentos que, previsivelmente, a Censura eliminaria dos jornais legais.

“Sofremos por ver a face da Igreja, Mãe e Mestra, desfigurada. No entanto o Evangelho não nos permite julgar os bispos que, em bênçãos, banquetes e inaugurações, aparecem ao grande público com todo o peso de uma caução moral que os encandeia ao regime. E nem mesmo podemos julgar certos padres que, ainda em muitas regiões e em jornais católicos, sustentam abertamente o Estado Novo. Tudo isto é também traição de todos nós, e temos consciência de quanto têm pesado as nossas fraquezas e omissões”, lê-se no artigo de abertura da publicação.

Entre os documentos que podem ser consultados encontra-se o texto intitulado “As relações entre a Igreja e o Estado e a liberdade dos católicos”. A tomada de posição, que foi assumida por mais de 40 personalidades do mundo eclesial e cultural, conta com as assinaturas de Alberto Vaz da Silva, Pe. Abel Varzim, António Alçada Baptista, Francisco de Sousa Tavares, Gonçalo Ribeiro Teles, João Bénard da Costa, José Escada, Nuno Teotónio Pereira e Sophia de Mello Breyner Andresen.

“Deve notar-se – assinala o texto – que muitos católicos têm lamentado e manifestado respeitosamente, pelos meios ao seu alcance, o seu desacordo com atitudes das autoridades da Igreja em Portugal, que lhes parecem demasiado favoráveis ao regime, e com o pouco vigor com que se chama a atenção para certos princípios da moral cristã que o Estado Novo tem esquecido ou infringido sistematicamente, nomeadamente no que se refere ao respeito pela liberdade e consciência da pessoa humana.”

Na declaração, os signatários recusam aceitar que “em nome do Catolicismo ou de quaisquer doutrinas políticas, os considerem menos católicos, menos portugueses ou menos honestos, pelo facto de discordarem de algumas ou muitas orientações do Governo”.

A “Carta a Salazar sobre os Serviços de Repressão”, datada de 1 de Março de 1959, reuniu igualmente mais de quatro dezenas de assinaturas.

A missiva começa por garantir que os signatários não sentem “qualquer animosidade” contra o então Presidente do Conselho. “Pelo contrario – prossegue o texto – todos [os] católicos reconhecem a validade cristã de muitos princípios defendidos por V. Ex.a e, quasi todos educados na estima e no respeito da sua alta personalidade, só pouco a pouco e dolorosamente começaram a duvidar da aplicação autêntica de alguns desses mesmos princípios, até chegarem à conclusão – porventura demasiado tarde – que a sua consciência de cristãos e a sua dignidade de homens lhes impunha o dever de se dirigirem a V. Ex.a nos termos em que agora o fazem”.

Algumas linhas depois, o texto denuncia que indícios diversos e persistentes parecem indicar que os serviços de repressão do regime admitem e empregam métodos que uma consciência humana bem formada não pode tolerar e um espírito cristão tem necessariamente de repudiar”.

A lista de documentos, que actualmente contém cinco entradas, será actualizada à medida que as fontes forem sendo digitalizadas.


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