Wednesday 3 November 2010

QUEM FOI O PADRE ABEL VARZIM?


Em Ano Sacerdotal

Abel Varzim da Cunha e Silva nasceu em Cristelo, a 29 de Abril de 1902. Ordenado sacerdote em Braga, a 29 de Junho de 1925, com 23 anos apenas, aceitou ser enviado para o Alentejo. Começou aí a sua vida paroquial. Leccionou no Seminário de Serpa e fundou aí o primeiro grupo de Escuteiros daquela província.
Para melhor habilitação na defesa da justiça, frequentou entre 1930 e 1934, a Universidade de Lovaina, na Bélgica, conseguindo o grau de Doutor em Ciências Políticas e Sociais, com tese editada em França sobre a Liga dos Agricultores Belgas.

Regressado a Portugal, dedicou-se em pleno, dentro dos condicionalismos existentes, à defesa dos trabalhadores e de todos os desprotegidos.Dirigiu, de 1939 a 1948, o Secretariado Económico-Social da Acção Católica Portuguesa, onde, durante horas seguidas, atendia e procurava resolver casos de desemprego e de falta de realização humana.

Foi deputado à Assembleia Nacional, em representação da Igreja, na legislatura de 1938 a 1942. Não voltou ao lugar nas legislaturas seguintes, porque as suas principais intervenções beneficiaram da hostilidade governamental.
O seu amor à classe trabalhadora e o conhecimento que possuía dos seus problemas e aspirações fizeram dele fundador e inesquecível assistente da Liga Operária Católica, cuja actividade veio também a ser reprimida.

Abel Varzim sentiu-se obrigado, em 1948, a deixar o lugar de professor do Instituto de Serviço Social, que ocupava desde 1938, sob a ameaça de a escola cessar de receber o subsídio do Governo, caso ele não saísse.Nomeado pároco da Encarnação, no Chiado, em Lisboa, em 1951, também aí o seu trabalho de recuperação das prostitutas do Bairro Alto, suas paroquianas, teve má sina, não obstante a criação de um centro de reintegração na Amadora e no Porto e da fundação da Liga Nacional Contra a Prostituição.
Cansado e doente, foi aconselhado, em 1957, a retornar à sua terra natal, onde ainda se lançou na constituição e colocação em funcionamento, juntamente com alguns conterrâneos, da Sociedade Avícola do Minho, para desenvolvimento da região.Vigiado pela PIDE, durou seis anos e meio o seu cativeiro. Faleceu a 20 de Agosto de 1964, em actividade.

Autora: Fátima Vilaça

Dois traços sintomáticos para caracterizar o padre Abel Varzim:
Dava tudo o que tinha aos outros. Dava até a própria roupa pessoal, conforme afirmava há poucos anos alguém que foi responsável por serviços domésticos numa casa comunitária onde o padre Abel Varzim residiu, durante um período da sua vida. "Não há um dia de sossego, meu Deus! Sempre a miséria a rondar-me a porta... e eu sem lhes poder valer!". São palavras de Abel Varzim, recolhidas das páginas do seu "Diário".

Diz Abel Varzim: "Não gostei da procissão! (...) A Procissão dos Passos é de todos os dias mas não tem andores, nem música, nem anjinhos. Tem dores, angústias, desesperos, lágrimas, lamentos, e chagas. São os ódios de raças, as lutas fratricidas, os colonialismos, os campos de concentração, a opressão das consciências, as limitações da personalidade e da liberdade humanas, a fome, o desemprego, os bairros de lata, os acidentes de trabalho e de estrada, as prepotências e desmandos do capital, a exploração de menores, a escravatura da mulher, os compadrios, as injustiças, os egoísmos (...) Tudo isto flagela, dilacera, crucifica o Corpo de Cristo, como nunca talvez na História da Humanidade". In Abel Varzim, Procissão dos Passos - Editora Multinova- colecção Palavra e Testemunho.

José Ângelo Gonçalves de Paulos disse...
Padre José Luis, Meu Querido Amigo, mesmo contra a vontade de alguns dos seus leitores, volto ao seu blogue para enaltecer a Obra do Padre Abel Varzim e sugerir ao meu Amigo, que neste ano dedicado ao sacerdócio, escrevesse sobre estes ou esses padres que ofereceram as suas vidas na total disponibilidade aos mais pobres e desprovidos da sociedade. Houve muitos em Portugal. A Madeira fala-se do P. Teixeira da Fonte, que não conheci e do P.Dr.Maurício de Freitas a quem ajudei à Missa no Convento de Santa Clara, onde ele era capelão. Mas tinha eu sete ou oito anos de idade. Pouco ou nada posso dizer. Para além dos padres do Pombral e do Grupo dos 12, que fizeram uma carta "Mais Democracia , Melhor Democracia" atribuindo esse título a uma chamada de atenção ao Mundo do Papa Pio XII. É, apenas, uma sugestão.Agora houve padres na Madeira que não sendo políticos e eram até muito conservadores, tiveram uma vida de total abnegação e radicalização nas suas vidas. Num total desprezo pelo vil metal , Refiro-me ao Senhor Cónego Manuel Pombo. Que deveria estar nos altares. Ricos ou pobres; pecadores ou estando em graça a todos tirava o chapéu, quando na rua passava.n
E termino dizendo uma frase de um dos padres conciliares do Arcebispo Maximos V "o maiora mal dos nossos dias não é a pobreza dos desprovidos, mas a inconsciência dos garantidos"

2 de Fevereiro de 2010 04:33
tukakubana disse...
Oração: Padre Abel que estás nos céus, toca o coração dos teus irmãos sacerdotes. Ámen.

Quando em 1972 vivi no Funchal, na R.Mãe dos Homens (Rochinha) lembro-me muito bem do P. da paróquia de Fátima, então, ainda que pouco ou nada tenha falado com ele. Não me recordo agora o nome, mas recordo-me da "sola" dos sapatos dele, ao subir a Rochinha, com cartão a tapar o que faltava na sola. Porque, já nessa altura, era pelos pobres e ostracizados, o tal bispo D. Francisco, arranjou maneira de "desaparecer" com ele.Hoje estará no céu, talvez pedindo a Deus que deixe entrar o D. Francisco...
Como dizia o José Angêlo (olá, há anos que não nos vimos!)o P. Teixeira da Fonte era "um santinho" para o povo do Porto Moniz, que ainda hoje o chora e evoca. Graças a Deus, houve e há ainda santos sacerdotes. Não serão "infalíveis" mas também não ambicionam chegar ao trono de Roma e, sendo assim, são mais iguais e atentos ao seu povo.Bem hajam

2 de Fevereiro de 2010 07:28
tukakubana disse...
à força de recordar, lembrei-me. O santo dos nossos dias que referi, era o Padre Marques, se a memória me não falha por completo.

2 de Fevereiro de 2010 07:46
Autoer do blog disse...

Sim era o padre Marques, que morreu em Paris há cerca de dois anos com um cancro... Paz à sua alma e que fique o seu exemplo para os nossos dias...

2 de Fevereiro de 2010 07:56

Publicada por José Luís Rodrigues em 02:25


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