06-04-2005 - 19:30h
«Achei que era um padre que queria tocar o Papa»
Homem da PSP que evitou que o Santo Padre fosse apunhalado em Fátima resistiu três vezes às tentativas do padre Krohn. À terceira foi de vez. Deitou-o ao chão e retirou-lhe o punhal
1982. O subchefe Ramalhete é um dos guarda-costas do primeiro-ministro Pinto Balsemão. A polícia portuguesa prepara nesse ano a primeira visita a Portugal do Papa João Paulo II. Ramalhete é chamado a integrar a operação de segurança, chefiando duas equipas de elementos da PSP que iam proteger o santo padre - uma em Fátima e outra em Coimbra.
Católico, com 34 anos e cheio de amor pela profissão, o subchefe não imaginava, quando foi chamado a integrar a missão, que acabaria por salvar a vida ao sumo pontífice. Momentos que nunca mais esquecerá. Pormenores que recordou em entrevista ao PortugalDiário.
12 de Maio, 22.45h. «O Papa tinha saído da capela das Aparições e seguia no jipe em direcção ao altar mor». No corredor por onde o veículo passa, não é permitida a entrada de ninguém, excepto os homens da segurança e alguns religiosos. Juan Fernández Krohn, um padre espanhol, furou o esquema de segurança e entrou no corredor proibido.
«De repente o padre saltou a vedação mas nem considerámos muito grave porque era um padre. Achámos que era um padre emocionado que queria tocar no Papa», conta o (agora) subcomissário Ramalhete. Mas era grave. Era grave porque Krohn não era um padre qualquer. Fazia parte de um movimento integrista da Igreja Católica - a Fraternidade S. Pio X, cujo fundador, monsenhor Marcel Lefebvre, provocou depois um cisma, ao ordenar bispos contra a autoridade do Papa. Esta foi, aliás, a única ruptura oficial vivida por João Paulo II à frente dos destinos do Vaticano e da Igreja.
«O Papa ainda voltou atrás e deu-lhe a bênção, fez-lhe o sinal da cruz. E [Krohn] ainda voltou a dirigir palavras ofensivas ao Papa».
Apesar de ter conseguido, por três vezes seguidas, evitar que o atentado se concretizasse, o subcomissário sublinha que foi «um trabalho de equipa». Mais tarde prestou declarações na Polícia Judiciária. O padre Krohn, de 32 anos, «era alto, magro e fisicamente bem constituído. É julgado no tribunal de Ourém e condenado a sete anos de prisão. Cumpre apenas três anos e é libertado por bom comportamento.
As palavras minuciosas com que o oficial reformado da PSP descreve todo o caso revelam que esta será uma das operações mais marcantes da sua vida. Embora não seja a única. «Também não esqueço o dia em que levei Sá Carneiro ao aeroporto, momentos antes de ter morrido».
PORTUGAL DIÁRIO 06-04-2005 - 19:30h
Por: Lisete Reis
No comments:
Post a Comment